Multidões de jovens hiperconectados ocupando palácios presidenciais, grandes manifestações em espaços públicos contra governos marcados por corrupção e patrimonialismo, enfrentando forças de repressão estatal que agem de modo cada vez mais truculento. Cenas como essa têm se multiplicado, mas têm ocorrido com maior frequência nos países da Ásia Meridional e do Sudeste Asiático.
A insatisfação não está limitada por fronteiras ou credos. Ela está no Sri Lanka, de maioria budista; nas muçulmanas Bangladesh e Indonésia; no hinduísta Nepal e na católica Filipinas. Em comum, todos contam com altos percentuais de população jovem. As pessoas com menos de 30 anos correspondem a 57,1% da população do Nepal, 56% em Bangladesh, 55,7% nas Filipinas e 48,1% na Indonésia.
Por isso, esses movimentos estão sendo chamados de revoltas da “geração Z” ou “Gen Z”, como são agrupados os nascidos entre 1997 e 2010, descritos como a primeira geração de “nativos digitais”. Se é fato que juventude e rebeldia se tornaram sinônimos desde os anos sessenta, quando os jovens eram os “baby boomers” (a geração nascida pós-1945), as revoltas de agora expressam as novas condições econômicas, políticas e culturais, bastantes distintas da abundância dos anos sessenta.
Se não fotografou, não aconteceu. Amigos fazem selfie em frente ao palácio presidencial ocupado no Nepal
Por exemplo, a forma de comunicação e o tipo de efeito que provocam guardam relação direta com a rapidez dos nossos celulares, onde o mundo todo acontece em tempo real. As revoltas da geração Z se caracterizam pelo uso intenso das redes sociais e outras plataformas menos rastreáveis (a deep web fornece abrigo contra a censura e a repressão estatal), para uma rápida organização em rede, horizontal, igualitária, distinta de qualquer tipo de relação hierarquizada sempre vista como opressora. A vinculação entre a Gen Z e o mundo digital foi, não por acaso, a causa de algumas revoltas quando governantes cortaram o sinal da internet.
A rapidez com que as informações – verdadeiras ou falsas – se difundem e o impacto no tipo de reação social, especialmente quando guiada por indignação, pode ser avaliado na aceleração das crises e seus desenlaces. Em 2022, foram necessários cinco meses para remover o clã Rajapaksa do poder no Sri Lanka. Em Bangladesh, a presidente fugiu para a Índia após quatro semanas de protestos estudantis. No Nepal, bastaram dois dias de manifestações para a renúncia do primeiro-ministro. Em Madagascar, na costa oriental africana, ocorreu o mesmo.
Mas a geração Z não é apenas o acesso à tecnologia, ela inclui a nova geração da classe trabalhadora que, em todo o mundo, está sentindo mais duramente os efeitos dos processos de automação e concentração de renda, que limitam as possibilidades de melhoria de vida. E isso inclui a juventude com diploma universitário fortemente impactada pelo desemprego. Além disso, para essa geração o mundo conhecido é o das mudanças climáticas e das perspectivas sombrias para o planeta – tema fortemente explorado em filmes, jogos, desenhos consumidos por esses mesmos jovens.
Esse grito, entoado por multidões nas ruas, sintetiza o que é visto pelos manifestantes como a causa máxima para a perpetuação das desigualdades sociais e agravamento da pobreza. O que eles chamam de nepotismo, ou seja, o favorecimento de parentes, no Brasil nós chamamos de patrimonialismo, que é a captura do aparelho de Estado por elites que governam em benefício próprio e, por laços de parentela ou amizade, se perpetuam no poder.
O problema dessas revoltas é a carência de proposições políticas factíveis e, muito menos, disposição de seus atores para enfrentarem o “dia seguinte”, quando é necessário negociar com toda a sociedade. Quem acompanhou o que aconteceu no Brasil a partir de 2013, sabe que o que começou como protesto anti-corrupção terminou com um traumático processo de impeachment e, em 2018, a eleição de um candidato de direita cuja política-econômica agravou ainda mais os problemas sociais.
Essa experiência de revoltas terminando por jogar o poder nas mãos de militares ou partidos de direita que flertam com o extremismo já aconteceu em outros países. Já houve quem chamasse as revoltas na Ásia Meridional de “Primavera Asiática” por analogia com a “Primavera Árabe” de 2012. Esquecem que a luta por democracia degenerou em guerras civis e mais repressão em quase todos os países.
O abismo de oportunidades que separa a massa da população jovem dos exibicionistas filhos de políticos e empresários – os nepo babies – é tema comum a vários movimentos da Gen Z.
Por isso, é o desdobramento desses movimentos de contestação na Ásia que devemos acompanhar, muito mais importante do que a efêmera imagem de pessoas fazendo selfies nos palácios e mansões dos poderosos. Sem esquecer que, muito próximos, dois gigantes observam: a Índia de Narendra Modi e a China de Xi Jinping.
Em 14 de julho de 2022, no ápice de uma onda de protestos populares encabeçados pelos jovens, o presidente Gotabaya Rajapaksa renunciou seguindo os passos de seu irmão, o primeiro ministro Mahinda Rajapaksa, que já havia fugido do país. Dias antes, manifestantes invadiram a residência presidencial e as redes sociais do país ficaram repletas de imagens de pessoas nadando na piscina do palácio.
Multidão invade o palácio presidencial em 2022
Era o auge das manifestações iniciadas em março daquele ano, em nome da luta por uma cidadania mais digna. Assolados pela carestia de alimentos, remédios e combustíveis, além de cortes constantes de energia, a insatisfação foi capaz de aproximar supostos inimigos étnicos.
Os irmãos Rajapaksa dominaram o sistema político desde o início do século XXI. Dividiram o poder e foram responsáveis pela violenta repressão que pôs fim à guerra civil entre cingaleses budistas e tâmeis hindus, de 1983 a 2009, mas apenas para assegurar vantagens à elite cingalesa.
A mera indicação de um novo presidente deixou o povo insatisfeito, dado que a coalizão parlamentar dos Rajapaksa continuou intacta. O novo governo chamou os críticos de fascistas e impôs o estado de emergência, silenciando os manifestantes em Colombo, a capital. Sem nenhum tipo de organização para além da comunicação digital, o povo foi calado.
Nas eleições de 2024, a população respondeu votando no candidato de oposição Anura Dissanayake para a presidência. Seu partido, a frente de esquerda Poder Nacional e Popular (NPP), obteve vitória esmagadora passando de seis cadeiras para 159, em um Parlamento com 225 vagas. O partido dos Rajapaksa, focado no nacionalismo cingalês, foi varrido da casa legislativa.
Bangladesh, ex-Paquistão Oriental, conquistou sua independência em 1971 sob a liderança da Liga Awami (“Popular”, em bengali). No governo, eles instituíram um sistema de cotas que direcionava 1/3 dos empregos públicos aos familiares de quem lutou na guerra de independência. Com o tempo, tornaram-se uma casta política.
Sheik Hasina
Sob a liderança de Sheik Hasina, primeira ministra desde 2009 e filha do líder da independência, intensificou-se a perseguição a opositores, com desaparecimentos e assassinatos, assim como a censura por meio do Ato de Segurança Digital, de 2018, que afetava diretamente a vida da população mais jovem.
Após uma nova eleição de Hasina, em janeiro de 2024, a Suprema Corte restabeleceu o sistema de cotas para empregos públicos, que havia sido suavizado em 2018, após uma onda de protestos. Foi a gota d’água para a criação do movimento Estudantes Contra a Discriminação, no início de julho. Foi o começo da proclamada “monção revolucionária”.
O Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos estima que 1.400 pessoas foram mortas durante os protestos entre julho e agosto de 2024, com 78% das mortes causadas por armas de fogo típicas das forças de segurança. Já a Human Rights Watch responsabiliza o governo de Hasina pela execução extrajudicial de 2 mil pessoas nos seus 15 anos no poder.
Em 15 de julho de 2024, policiais e integrantes da Liga Awami atacaram com brutalidade um protesto pacífico de estudantes em Dacca, a capital. O assassinato do jovem universitário Abu Sayed, com vários tiros a queima roupa, se difunde rapidamente pelas redes sociais. Seu enterro viu surgir um mártir e a faísca de uma rebelião. Em um país no qual mais de 25% dos 174 milhões de habitantes vivem abaixo da linha da pobreza, os jovens se levantaram contra a corrupção e os desmandos da elite política.
Muhammad Yunus foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2006. Mas uma andorinha sozinha pode fazer um verão?
O governo cortou o sinal de internet e impôs o toque de recolher, mas a repressão não foi suficiente para impedir o cerco à residência da primeira ministra pelos manifestantes. Em 5 de agosto, Hasina fugiu para a Índia; a Liga Awami é popular junto à minoria hindu de Bangladesh.
Em seguida, o presidente nomeou primeiro ministro interino a Muhammad Yunus, banqueiro que foi laureado com o Nobel da Paz em 2006 pelo seu programa de microcrédito para pessoas de baixa renda. O movimento Estudantes Contra a Discriminação teve seus líderes convidados a integrarem o gabinete de Yunus e, assim, transformou-se no Partido Nacional dos Cidadãos (NCP), de centro-esquerda.
Contudo, foram comissões suprapartidárias nas quais predominavam as forças políticas tradicionais – e não uma Assembleia Constituinte democraticamente eleita – as responsáveis pela elaboração de uma nova Constituição, em vigor desde outubro de 2025.
Maior arquipélago do mundo, com mais de 17 mil ilhas, a Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo, com 283 milhões de habitantes, que ocupam apenas 6 mil ilhas. E na ilha de Java, onde está a capital, Jacarta, vive mais da metade da população, o que a torna a ilha mais populosa do mundo.
E assim como nos casos de Sri Lanka e Bangladesh, grupos políticos capturaram o Estado e passaram a se apropriar de recursos públicos enquanto cortavam recursos de interesse social, aprofundando as desigualdades sócio-econômicas e os ressentimentos políticos.
O ano de 2025 começou com manifestações contra a política de austeridade fiscal do presidente Prabowo Subianto, que assumiu o poder em outubro de 2024, após uma carreira militar marcada pela violência. Em agosto, um projeto de lei para ampliar o auxílio residencial aos parlamentares em cerca de 10 vezes o salário médio em Jacarta, deflagrou novos protestos. A alienação da elite política indonésia em relação aos anseios populares não é nova e tem sido sustentada por sucessivos governos autoritários. O presidente anterior, Joko Widodo (2014-2024), deu início à construção de uma nova capital em meio às selvas da ilha de Bornéu, bem longe dos mais de 20 milhões de habitantes que residem em Jacarta.
No dia 25 de agosto, as forças de segurança avançaram sobre estudantes e sindicalistas reunidos frente ao parlamento indonésio em Jacarta. E um jovem de 21 anos, Affan Kurniawan foi atropelado por um veículo policial enquanto trabalhava como mototaxista, vindo a morrer três dias depois. A cena, filmada e difundida nas redes sociais, deflagrou a fase mais incendiária dos protestos. Afinal, os ojol, como são chamados os entregadores e motoristas por aplicativo no país, totalizam três milhões de pessoas.
Estudantes indonésios seguram cartaz em homenagem a Affan Kurniawan
O que era uma onda de indignação contra a desigualdade se tornou o brado contra a violência policial e espalhou-se pelas principais ilhas do arquipélago. Dois parlamentos provinciais foram incendiados, casas de parlamentares foram pilhadas em Jacarta, atos de destruição que justificaram repressão ainda maior. Prabowo acusou os manifestantes de “traição” e “terrorismo” e convocou as Forças Armadas para sufocar a rebeldia nas ruas, deixando uma dezena de mortos e milhares de detidos. Sem movimento nas ruas, os deputados indonésios acabam de dobrar o valor anual a receber durante seu recesso.
A contestação na Indonésia migrou para as redes sociais, com slogans cercados por fundo verde – o uniforme dos ojol – ou rosa – cor do véu de uma manifestante que foi fotografada ao desafiar a polícia. Que bússola pode guiar os que navegam pela internet para uma rota que os livre do naufrágio de seus objetivos?
A repressão havia começado na Indonésia quando uma onda de protestos encabeçados pelos jovens varreu o Nepal, pequeno país de 30 milhões de habitantes encravado entre a China e a Índia. Tudo começou em 4 de setembro, quando o governo decidiu bloquear 26 mídias sociais, como Facebook, WhatsApp e Instagram, ordenado pelo primeiro ministro Khadga Prasad Oli, cujo antecessor havia feito o mesmo com o TikTok em nome da “harmonia social”.
A república nepalesa é jovem, foi instaurada em 2008. O Estado laico substituiu o antigo reino hindu. O país deixou para trás a monarquia, mas mergulhou em instabilidade política. Houve 14 governos entre 2008 e 2025, sem grande avanço socioeconômico para os jovens, cuja falta de perspectiva leva à intensa emigração. Hoje, as remessas de dinheiro dos nepaleses que vivem no exterior representam 1/4 do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A hashtag #ByeNepoBabies era uma crítica aos filhos dos políticos e aos privilégios da classe dirigente.
Em frente ao palácio de governo, um manifestante arremessa um cartaz do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli
A suspensão das redes sociais detonou a cólera dos jovens, que tomaram as ruas da capital, Katmandu. O parlamento foi saqueado e incendiado; nas redes sociais, selfies de manifestantes em meio às chamas e uma bandeira do desenho One Piece pendurada no gradil do edifício. A cólera juvenil não poupou jornalistas e meios de comunicação: foram destruídas 15 sedes de veículos de imprensa. A ação revela certo desprezo pelo trabalho jornalístico, comum a quem se informa pelas vias tortuosas e pouco confiáveis das redes sociais, como denuncia a Repórteres sem Fronteiras.
Em meio à repressão policial cada vez mais mortal, no dia 9 de setembro o primeiro-ministro anunciou o restabelecimento das redes sociais e, em seguida, renunciou ao cargo. Nas redes, o nome que emergiu como favorito dos descontentes foi o da ex-ministra da Suprema Corte, Sushila Karki, com histórico de oposição à monarquia e enfrentamento aos privilégios da classe política republicana. Em 15 de setembro, o presidente dissolveu o Parlamento e escolheu Karki como Primeira Ministra interina.
Enquanto isso, o jovem Miraj Dhungana, um dos líderes dos protestos no Nepal, declarou que só criará um partido político para disputar as eleições se o governo de Karki conceder o direito de voto aos nepaleses que vivem no exterior. A postura intransigente pode ser um obstáculo para as negociações, resultando na dispersão da base social conquistada. É preciso escolher entre a “pureza” de quem é contra “tudo” e a necessidade política de conciliar posições e fazer pontes, não apenas de destruí-las.
O sistema político das Filipinas é dominado por clãs familiares. O atual presidente, Ferdinand Marcos Jr., com apelido de “Bongbong” Marcos, é filho do ex-ditador Ferdinand Marcos (1965-1986), aliado dos Estados Unidos na Guerra Fria. A vice presidente filipina é Sara Duterte, filha de Rodrigo Duterte, líder do país entre 2016 e 2022, e condenado à prisão pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), por crimes contra a humanidade cometidos em meio à sua “guerra às drogas”.
As Filipinas são outro país-arquipélago, com população de 112 milhões de habitantes e onde a bandeira do One Piece apareceu nas mãos de manifestantes durante os protestos iniciados em 4 de setembro de 2025, em Manila, a capital. A população suspeita do desvio de trilhões de pesos destinados à obras que deveriam prevenir a destruição provocada por inundações. No verão de 2025, tempestades tropicais e tufões causaram a morte de 30 filipinos, o que atiçou a indignação popular.
Nas ruas da capital, Manila, a juventude pede o fim da impunidade e dos privilégios
No dia seguinte ao mega-protesto realizado em Manila em 21 de setembro, o tufão Nando passou próximo ao arquipélago filipino, evidência da sensibilidade do país aos desastres naturais causados tanto por enormes tempestades, como pela sua localização no Círculo de Fogo do Pacífico, que favorece terremotos e vulcanismos.
A insatisfação popular é socioeconômica, pois o país tem um Coeficiente de Gini, o índice que mede as desigualdades, de 39,3, maior que a Indonésia e a China, apesar de um ciclo em vigor de crescimento econômico. E essa é a matéria do chamado anti-corrupção.
Agora, movimentos e partidos de esquerda tentam se fortalecer em meio às críticas ao presidente, mas os seguidores de Sara Duterte, que está rompida com “Bongbong” Marcos desde 2024, também querem surfar na onda. De novidade mesmo, nada.
Carentes de signos políticos próprios, a Gen Z escolhe símbolos pop – que comunicam rapidamente uma ideia sem se aprofundar em nada. Nos últimos anos, a palma da mão com três dedos estendidos, símbolo de resistência contra o regime totalitário de Panem, da série Jogos Vorazes, já havia aparecido em manifestações em Mianmar e na Tailândia.
Mas a referência rapidamente disseminada nas ações mais recentes é o desenho de origem japonesa One Piece. É a história de um mundo oceânico dominado por um Governo Mundial corrupto e autoritário, munido de um sistema de Justiça orientado pelo arbítrio. O poder é exercido pelos “Dragões Celestiais”, seres humanos que se acham quase divinos e habitam um estreito anel continental que atravessa o planeta no sentido Norte-Sul. E o povo, subjugado, está espalhado por milhares de ilhas, isolado. É uma geografia de arquipélagos, assim como quase todos os países citados acima e esse é um interessante aspecto de identificação.
O anime criado em 1999 por Eiichiro Oda, One Piece é o mangá mais vendido da história, com mais de 500 milhões de cópias
O protagonista é o jovem pirata Monkey D. Luffy, que luta ao lado de sua tripulação contra outros piratas, muitos deles corsários que agem a serviço do Governo Mundial. Seu objetivo é encontrar o tesouro perdido, o One Piece, que contém os segredos para derrotar o Governo Mundial.
As referências ao One Piece parecem ter ganhado força na Indonésia, quando o presidente Subianto tentou utilizar o dia da independência para incentivar a adoração à bandeira do país. Em meio às manifestações que vinham desde o início do ano, a insígnia vermelha e branca da Indonésia foi substituída pela bandeira de fundo preto de One Piece, com sua caveira portando um chapéu de palha.
A ideia do combate a um “Governo Mundial” que a tudo controla e manipula possui apelo entre os jovens, uma visão de mundo conspiracionista comum hoje, tanto em movimentos à esquerda quanto à direita, expressão de sistemas políticos que não tem sido capazes de ouvir as demandas da população, pondo em cheque a própria ideia de democracia. Porém, a identificação generalizada com One Piece expressa uma visão de mundo que tende a ser tão simplista quanto maniqueísta.
Desconfiados de instituições “verticais” como partidos e sindicatos, os jovens recorrem a ações fluídas e efêmeras centradas em palavras de ordem, mas não criam novas institucionalidades para transformar a insatisfação em ação. Isso significa que o trabalho político de construir alternativas nunca é realizado. E assim, tais experiências se dissolvem no ar.
Em Como curar um fanático (2012), o escritor isralenese Amos Oz (1939-2018) – integrante do “campo da paz” e a favor da Solução dos Dois Estados – faz uma elegia às penínsulas, feição geográfica parcialmente cercada pelas águas – diferente do mundo ficcional de One Piece, divido em ilhas. Para Oz, a política se degrada se ocorre o isolamento dos indivíduos em “ilhas”, restringindo-se a experiência da diversidade, ou quando transforma cada pessoa em mera molécula de “continentes”.
Para Amos Oz ser península é estar definido pelas pontes construídas por palavras, algo que os movimentos da “geração Z” precisam fazer se não quiserem se dividir em “ilhas” isoladas, assoladas por um oceano de repressão ou insignificância, real e virtual.
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