2022, MARCHAS DE REFUGIADOS

 

Demétrio Magnoli

19 de junho de 2023

 

Marchas de refugiados e deslocados internos tornaram-se marcas tristemente comuns de todos os continentes. 2022, contudo, assinala um recorde histórico: quase 110 milhões de pessoas, algo como metade da população do Brasil, são classificados pela ONU como deslocados à força. O relatório mais recente do Alto Comissariado para Refugiados (Acnur), publicado dias atrás, registra um crescimento  de 19 milhões de deslocados em relação ao ano anterior. A invasão russa da Ucrânia é o principal fator no salto estatístico.

No final de 2022, contavam-se 5,7 milhões de ucranianos refugiados em outros países. A guerra imperial de Vladimir Putin produziu esse número de refugiados em menos de um ano. A guerra síria, em comparação, levou quatro anos para provocar uma tragédia humana de iguais proporções.

Fonte: Acnur, 2023

 

A quantidade global de deslocados à força manteve-se mais ou menos constante, em torno de 40 milhões, entre 1990 e 2012. Na última década, porém, cresceu rapidamente, sob o impulso do colapso econômico venezuelano e das guerras na Síria, no Afeganistão e na Ucrânia.

Os deslocados internos somavam, no final de 2022, 60,5 milhões. Já os refugiados somavam 45,9 milhões.

Classifica-se genericamente como refugiados as pessoas que fogem de seus países em razão de guerras, conflitos e violências internas ou catástrofes naturais.

O Acnur adota oficialmente a classificação para 35,3 milhões de indivíduos: refugiados sob seu próprio mandato ou sobre o mandato da UNRWA, a agência especializada da ONU para refugiados palestinos no Oriente Próximo. Mas o termo abrange, ainda, os solicitantes de asilo (5,4 milhões) e os venezuelanos que deixaram seu país devido à combinação de hecatombe econômica e repressão política (5,2 milhões).

Fonte: Acnur, 2023

Fonte: Acnur, 2023

A Síria, seguida de perto pela Ucrânia e pelo Afeganistão, é a maior fonte de refugiados. Na posição seguinte, aparece a Venezuela, que não enfrenta guerra mas devastação social deixada pela ditadura chavista.

Os principais receptores são a Turquia (especialmente no caso dos sírios), o Irã (especialmente afegãos), a Colômbia (venezuelanos), a Alemanha (sírios e ucranianos) e o Paquistão (afegãos). A Polônia destaca-se como maior receptor de refugiados provenientes da Ucrânia.

 

Quatro décadas de catástrofes

Desde 1975, é possível identificar quatro picos de deslocamentos forçados internacionais. O atual ultrapassa todos os anteriores.

No primeiro, ao redor de 1980, a onda de refugiados quase alcançou a marca de quatro milhões. Cerca de 1,6 milhão de etíopes fugiram do país, açoitado pela combinação de uma guerra civil com a guerra externa contra a Somália. Simultaneamente, 1,3 milhão de afegãos tornavam-se refugiados, fugindo da guerra civil e da invasão soviética.

 

Fonte: Acnur, 2023

O segundo pico corresponde à metade inicial da década de 1990. Em 1991, quase 1,5 milhão de iraquianos xiitas fogem de seu país rumo ao Irã , a fim de escapar à sanguinária repressão conduzida pelo ditador Saddam Hussein após sua derrota na Guerra do Golfo (1990-1991). Três anos depois, à sombra do genocídio deflagrado pela ditadura hutu, 2,3 milhões de ruandeses tutsis buscam abrigo nos países vizinhos.

O terceiro pico desenrolou-se entre 2014 e 2018. No seu ápice, a guerra civil síria expulsa 1,7 milhão de pessoas num único ano, provocando uma crise migratória na Europa. Poucos anos depois, o número de refugiados sírios, somado ao de refugiados venezuelanos, atingia a marca de 3,8 milhões.

Globalmente, em 2018, contavam-se cerca de 5 milhões de refugiados. Atualmente, o número mais que dobrou. A guerra de agressão russa na Ucrânia é a principal responsável pela sombria estatística.

 

 

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