Quase 1,4 milhão de solicitações de asilo chegaram aos países da União Europeia (UE) e da Associação Europeia de Livre Comércio (AELC) em 2015. A conjunção da guerra na Síria com a guerra crônica no Afeganistão, os confrontos com o Estado Islâmico no Iraque e a virtual dissolução da autoridade estatal na Líbia provocou a crise migratória na Europa. Desde a Segunda Guerra Mundial, não se verificava um deslocamento humano por causas políticas de tal magnitude.
Fonte: Migration Policy Institute, 2017
Desde 2012, na área da UE e da AELC, cresceram exponencialmente as concessões de asilo, até o ápice de 2016, quando foram reconhecidos os direitos de quase 400 mil refugiados.
A Síria figurou como país de origem majoritário entre os solicitantes de asilo. A dimensão do fluxo de refugiados sírios na Europa refletiu o agravamento da guerra síria. De pouco mais de 25 mil pessoas, em 2012, o fluxo atingiu quase 130 mil, em 2014, e mais de 350 mil em 2015 e 2016. A marcante redução de 2017 decorreu tanto da diminuição da intensidade dos combates quanto das restrições crescentes ao ingresso de refugiados na área UE/AELC.
Depois da Síria, Afeganistão e Iraque apareceram como fontes principais de refugiados. No caso afegão, o êxodo derivou da intensificação dos confrontos entre o Estado, apoiado pelas forças da OTAN, e a guerrilha do Talebã. No caso iraquiano, dos conflitos entre o governo central e o Estado Islâmico. A precária estabilização dos dois países ajuda a explicar a redução do fluxo de refugiados em 2017.
A grande crise migratória na Europa compreende o período entre 2014 e 2017. Durante todo o período, a Alemanha figurou, de longe, como principal destino dos refugiados. Definiram-se duas rotas migratórias mais relevantes: a dos Bálcãs, predominantemente terrestre, e a do Mediterrâneo central, marítima. As características de cada uma, bem como as políticas migratórias adotadas pelos diferentes países, explicam as oscilações nas estatísticas de solicitação de asilo.
As solicitações de asilo mais que dobraram entre 2014 e 2015. Nesse intervalo, definiu-se a rota migratória dos Bálcãs – e, com ela, explodiram os pedidos de asilo na Hungria e na Áustria. Nos dois países, a pressão migratória acabou fortalecendo as correntes políticas nativistas e convertendo a xenofobia em ativo eleitoral.
A Áustria apertou os controles fronteiriços, enquanto a Hungria ergueu uma dupla cerca na sua fronteira sul. Como resultado, em 2016 a rota do Mediterrâneo central substituiu a rota balcânica como principal corredor de passagem de refugiados. A pressão migratória transferiu-se, então, para a Itália – o que contribuiu decisivamente para o triunfo dos dois partidos populistas – o Movimento 5 Estrelas e a Liga – nas eleições de março de 2018. Enquanto isso, no leste, a interrupção da rota balcânica provocou forte aumento da pressão migratória sobre a Grécia.
A crise feriu profundamente a União Europeia. A Alemanha não conseguiu persuadir os parceiros do bloco a adotarem uma política migratória unificada, adotando critérios comuns para a redistribuição dos refugiados. A política interna alemã também sofreu impactos desestabilizadores, com o enfraquecimento da liderança de Angela Merkel. Nas eleições de 2017, a Alternativa para a Alemanha (AfD), partido ultranacionalista e xenófobo, obteve 13% dos votos. O desgaste eleitoral dos dois grandes partidos obrigou a primeira-ministra a reinstalar uma grande coalizão com os social-democratas.
A Europa e, especialmente, a Alemanha, estão nas manchetes da crise migratória. Contudo, os principais destinos de refugiados encontram-se no Oriente Médio.
A Turquia abriga mais de 3,1 milhões de refugiados. Parte significativa deles estabeleceu-se nos últimos cinco anos, inclusive centenas de milhares que não puderam seguir rumo à União Europeia devido ao fechamento da rota balcânica. Na Jordânia e no Líbano, as diásporas síria e iraquiana somaram-se à antiga diáspora palestina. Nos Territórios Palestinos, os refugiados representam mais de dois quintos da população. Na Jordânia e no Líbano, eles somam mais de um terço. Só a Jordânia abriga bem mais que o dobro de refugiados que a Alemanha.
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