Fundada em 2013, a Alternativa para a Alemanha (AfD) conquistou 12,6% dos votos nas eleições para o Parlamento alemão em setembro de 2017 tornando-se a terceira maior bancada no Bundestag, apesar de ter sido apenas seu segundo pleito. O resultado surpreendente fez com que os históricos rivais União Democrata Cristã (CDU), de Angela Merkel, e Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) buscassem uma coalização a fim de evitar impedir que o AfD se torne o fiel da balança no parlamento.
A AfD surgiu no auge da crise do euro, como oposição à política de austeridade de Merkel, que afirmava “não haver alternativa para a Alemanha”. Em resposta, o novo partido defendia o abandono do euro e a volta ao marco alemão. Mas o euroceticismo sozinho não mobilizava tanto, sobretudo frente aos sinais de recuperação, e o Alternativa perdeu espaço, até que a crise dos refugiados envolvesse diretamente o país e o partido adotasse um discurso anti-imigração e anti-islâmico.
Em 2016 a AfD lançou o slogan “O Islã não é parte da Alemanha”. No link abaixo podemos ver Hugh Bronson, um integrante do partido, defendendo a ideia de um “banimento dos símbolos muçulmanos” do país, ao mesmo tempo em que nega que a AfD seja um partido contrário à imigração. Com uma retórica aparentemente apaziguadora, ele propõe uma imigração controlada, bem como a plena integração dos muçulmanos à sociedade germânica, por meio da adoção da língua e da cultura germânica (Vídeo: “Islam is not part of Germany – German right-wing AfD party adopts anti-Islamic manifest0”).
A então líder da Alternativa para a Alemanha, Frauke Petry (foto), chegou a afirmar que oficiais das fronteiras, em certas situações, poderiam atirar legitimamente em refugiados que tentassem entrar ilegalmente no país. Em suas palavras: “oficiais devem usar armas de fogo se necessário para evitar a passagem ilegal pelas fronteiras” porque “a polícia precisa barrar a entrada de refugiados em solo alemão” (The Independent: “German Police Shoud Shoot refugees, says Afd party leader Frauke Petry”).
Já o professor de História, Bjorn Hocke, em um discurso na cidade de Dresden, criticou o sistema educacional do país afirmando que os alunos não aprendem o suficiente sobre as realizações artísticas e científicas da Alemanha, e que o ensino de História faz o passado da nação parecer “malvado e ridículo”. Para ele, os alemães devem parar de se culpar pelo passado nazista: “eles [aqueles que relembram os crimes contra a humanidade cometidos pelo 3º Reich] querem cortar nossas raízes, e com a reeducação que começou em 1945 eles quase conseguiram […] até agora, nosso estado mental continua sendo o de um povo completamente derrotado […] nós, alemães, somos o único povo no mundo que ergueu um ‘monumento da vergonha’ [referindo-se ao Museu do Holocausto] no coração da capital” (The New York Times: “Germany’s Extreme Right Challenges Guilt Over Nazi Past”).
De onde vem o apoio à AfD? Os mapas eleitorais revelam dois fatos: primeiro, a agremiação avança em todas as regiões, sendo raras as áreas onde o voto tenha sido inferior a 5%; segundo, os estados do leste, exatamente os ex-comunistas, apresentam maior preferência pela AfD. E mais, a região de Dresden, base de atuação do PEGIDA (veja abaixo), tem mais de 30% de eleitores escolhendo a extrema-direita. Na média, a proporção dos votos em grupos ultra-nacionalistas de acordo com a antiga divisão do país aponta 20.5% para o leste, contra 10.7% no oeste.
Deve-se considerar que, desde a reunificação alemã, em 1991, a integração da população proveniente dos antigos estados comunistas tem sido uma questão complexa. Às dificuldades de adaptação à nova ordem liberal e capitalista, somou-se a revolução tecnológica e a obsolescência de antigas áreas industriais (como Dresden), provocando inéditos níveis de desemprego e dificuldades de realocação da mão de obra. Nem mesmo as políticas sociais são mais seguras ou suficientes para todos. Os sentimentos de insegurança e medo facilmente são explorados por lideranças xenófobas, que culpam o “imigrante muçulmano” pelas dificuldades. E talvez ainda exista uma diferença importante entre as populações das duas antigas Alemanhas: os do leste, comunistas, não participaram de um longo processo histórico de valorização dos princípios da democracia e dos direitos humanos.
(Fonte: German Electoral Office)
Veja mais gráficos e mapas sobre o desempenho da AfD nas eleições de 2017:
O PEGIDA (Patriotische Europäer gegen die Islamisierung des Abendlandes) não é exatamente um partido político, mas uma organização engajada em “denunciar a islamização do Ocidente” e em combater o “extremismo islâmico”. Baseado na cidade de Dresden, onde surgiu em 2014, o grupo cresceu em 2015 conquistando filiados em outras cidades alemãs. Em poucos meses, foram de algumas centenas de apoiadores a 25 mil pessoas, para depois recuar.
Esse rápido crescimento respondeu à situação provocada pela chegada de imigrantes e refugiados de diferentes origens, genericamente identificados como “islâmicos”, mas que na prática são profundamente divididos em suas vertentes religiosas e rivalidades históricas. Naqueles meses, violentos confrontos ocorreram em solo alemão entre os distintos grupos de imigrantes (salafitas contra curdos; apoiadores e detratores do Estado Islâmico; xiitas e sunitas). O PEGIDA acusou os imigrantes de trazerem o fanatismo religioso para a Alemanha, associando diretamente Islã e extremismo. Significativo é que manifestações contrárias ao PEGIDA ocorreram simultaneamente em diferentes partes do país, mostrando que a xenofobia e o racismo não têm apoio da maioria.
Com a continuidade da crise de refugiados, Lutz Bachmann, o fundador do PEGIDA, decidiu lançar um partido político em junho de 2016 para participar das eleições alemãs, o FDDV (Freiheitlich Direktdemokratische Volkspartei ou Partido Popular Liberal da Democracia Direta).
É interessante observar a insistência no caráter cristão da “alma austríaca”, porque a Áustria ocupa um lugar especial na construção da identidade cristã europeia. Foi graças à resistência da cidade de Viena, em 1529, ao sítio imposto pelo poderoso sultão turco Solimão, o Magnífico, que já conquistara Budapeste e boa parte da Hungria, que a Europa escapou do domínio otomano. Foi na Áustria que o “destino” da Europa cristã foi garantido. E até o desaparecimento do Império Otomano, no final da Primeira Guerra, a Áustria e seu saudoso Império Habsburgo marcaram essa fronteira. Não importa a laicização das sociedades europeias: a identidade cristã é parte fundamental da memória austríaca.
O Partido da Liberdade da Áustria (FPO) apresenta-se como um partido “liberal e nacionalista” (de saída, uma contradição conceitual). No site oficial da agremiação, apesar da glorificação do indivíduo e da família, e da retórica quase humanista comum ao liberalismo, a posição anti-imigração é facilmente identificável, e percebemos como a retórica “humanista” aplica-se apenas aos “humanos da pátria”.
Em sua carta programa, lê-se que a nação austríaca é uma comunidade baseada no nascimento e na cultura (o que inclui falar alemão e compartilhar valores). E que a“Áustria faz parte da região cultural da Europa. As raízes da cultura europeia remontam à Era Antiga. A Europa foi decisivamente moldada pelo cristianismo, influenciada pelo judaísmo e outras comunidades religiosas não-cristãs, enquanto o humanismo e o Iluminismo marcaram seu contínuo desenvolvimento. Reconhecemos os valores básicos que isso criou e a visão europeia do mundo, que descrevemos, em um sentido amplo, como cristianismo cultural, e que se baseia na separação entre Igreja e Estado”. O FPO afirma defender a democracia liberal contra o fanatismo e o extremismo, identificando todos os imigrantes e refugiados ao Islã radical.
Nas eleições parlamentares de 2017, o FPO obteve 26% dos votos, o que lhe valeu o terceiro posto, bem perto do tradicional partido social-democrata, e o ingresso na coalizão de governo, como parceiro menor do Partido do Povo, de centro-direita.
O Partido Popular Dinamarquês surgiu em 1995 para defender o que eles afirmam ser a “herança cultural dinamarquesa”, baseada no tripé família, Monarquia e Igreja Luterana da Dinamarca (da qual 75,9% da população se declara membro). O líder do DF, Kristian Thulesen Dahl, propõe barrar imigrantes provenientes de países muçulmanos, e a saída da Dinamarca do Espaço Schengen (a área de livre circulação de pessoas dentro da União Europeia). Quanto à economia, o partido defende a manutenção do Estado de bem estar social e pautas ambientalistas.
Em 2014, o DF foi escolhido pelo eleitorado para tomar assento no Parlamento Europeu. Em 2015, quando explodiu a crise imigratória, o DF tornou-se o segundo maior partido no parlamento dinamarquês, com 21% dos votos. Apesar disso, não exerce liderança, atuando essencialmente como parceiro dos partidos de centro-direita.
A FN foi fundado por Jean-Marie Le Pen, em 1972, com o objetivo de unificar diferentes grupos da direita nacionalista francesa (alguns deles com origens no século XIX). Começou a ganhar espaço na vida política nacional a partir de 1986, quando conquistou 35 cadeiras nas eleições para a Assembleia Nacional, com 10% dos votos. Apresentando-se como anti-establishment, a Frente Nacional manteve-se por muitos anos distante de críticas mais sérias, sobretudo ao opor-se desde o princípio à integração da Europa, em uma época em que esse era o principal objetivo político do continente.
A Frente Nacional sempre rejeitou os imigrantes, a princípio provenientes de suas ex-colônias, invocando uma identidade cristã, europeia e branca. Joana D’Arc é um ícone da FN. Invocam uma cidadania baseada no sangue e na cultura e, por conseguinte, rejeitam o Islã em terras francesas. Argumentam também que imigrantes trazem custos elevados para uma sociedade que tem seus próprios necessitados.
Marine, a filha de Jean-Marie, sucedeu ao pai na liderança do partido em 2011 e tratou de melhorar a imagem da FN, deixando em segundo plano propostas ultra-radicais, como a que pedia a deportação de 3 milhões de imigrantes já estabelecidos na França, ou a negação do Holocausto. Em relação à imigração, a FN defende a redução massiva na imigração legal, afirmando que a cidadania francesa deve ser “ou herdada ou merecida”. Quando se trata de imigração ilegal, Le Pen engrossa o discurso: “eles não têm razão para estar na França. Essas pessoas estão contra a lei a partir do minuto em que colocam o pé em solo francês”. Uma de suas propostas é acabar com a educação gratuita para os filhos de imigrantes não documentados.
Em um discurso em Paris, Marine Le Pen declarou “Se você vem para o nosso país, não espere ser cuidado, atendido, e não pense que suas crianças serão educadas sem custo. A brincadeira acabou”. Em outra declaração, de 2010, comparou a imigração islâmica a uma ocupação do território francês: “Se você quer falar sobre ocupação, vamos falar sobre isso, porque estamos falando de ocupação do nosso espaço. É uma ocupação de trechos inteiros de territórios, de bairros onde a lei religiosa é aplicada. Isso é uma ocupação. Claro, não há veículos blindados, nem soldados, mais ainda é uma ocupação, e pesa sobre os habitantes.”
Se, em 2010, a Frente Nacional contava com 10% de apoio dentro da França, em 2017, Marine Le Pen conseguiu chegar ao segundo turno da disputa à presidência, ficando com 35% do total de votos. Tal resultado não se deveu apenas à postura xenófoba e intolerante da agremiação, mas ao fato da FN aparecer como defensora dos velhos direitos trabalhistas e sociais que vêm sendo ameaçados pelas reformas liberalizantes. Nessa nova fase, a FN adotou um discurso populista, de polarização entre “globalistas” e “patriotas”, no qual ela se apresenta como defensora dos trabalhadores e da “nação” contra a “globalização anárquica”.
A França deve abandonar a União Europeia. A retórica do Frente Nacional coloca o euro e a União Europeia como instituições que beneficiam as multinacionais e exportadoras alemãs à custa do mercado e dos trabalhadores franceses. Um dos fenômenos mais significativos da eleição presidencial de 2017 foi a vantagem obtida por Marine Le Pen nas regiões do norte, que historicamente votavam nos partidos comunista e socialista, mas que atualmente sofrem com a desindustrialização e o desemprego.
Meses após a eleição de Emmanuel Macron e seu recém-criado partido A República em Marcha (La République en Marche), a Frente Nacional vem se abstendo de importantes debates na Assembleia Nacional, como por exemplo, sobre as reformas trabalhistas de cunho liberal ou a isenção de impostos que beneficiariam os mais ricos. Na prática, a oposição ao governo Macron é feita pelo A França Insubmissa (La France Insoumise), o partido radical de esquerda fundado por Jean-Luc Mélenchon (que colou o epíteto de “presidente dos ricos” em Macron).
A derrota de Marine Le Pen, todavia, não significou trégua para os imigrantes, pois o República em Marcha apresentou um projeto de lei que pode levar imigrantes não documentados ou com documentos falsos à prisão por até cinco anos, depois que uma pesquisa revelou que 63% dos entrevistados acreditam haver estrangeiros demais na França. De acordo com o ministro do Interior, Gerard Collomb, responsável pela proposta, a lei não é intolerante, como acusam os críticos, pois trabalha com dois princípios: o de que a França deve receber os refugiados e facilitar a sua integração, e o de que ela não pode acolher todos os migrantes econômicos que batem às suas portas.
Como se tornou claro com o tempo, parte expressiva do contingente de imigrantes recém-chegados à Europa tinha o Reino Unido por destino final. Mas o canal da Mancha barrava-lhes o acesso e os mantinha em solo francês, mais especificamente em uma área próxima a praia de Calais, onde fica a entrada do Eurotúnel (muitos refugiados tentam passar escondidos nos caminhões que fazem a travessia subaquática). Ali, desde 1999 a Cruz Vermelha havia criado um acampamento para imigrantes e refugiados, próximo a vila de Sangatte. Mas a partir de 2016 o campo passou a contar com um número tão expressivo de pessoas (cerca de sete mil), que a expressão “selva de Calais” passou a ser amplamente utilizada para descrever a situação de luta pela sobrevivência.
A precariedade causou comoção no público, que assistia a cenas degradantes nos jornais e redes sociais, cobrava solução das autoridades para uma situação que se tornava explosiva. Parte do problema era a dificuldade do governo britânico em lidar com o auxílio aos imigrantes em plena discussão sobre o Brexit, deixando ao governo de François Hollande todos os custos. Nos dias 24 e 25 de outubro de 2016 as autoridades policiais francesas iniciaram a transferência dos acampados para outras localidades. Houve resistência e confronto, no fim o campo foi evacuado. Indivíduos retornaram meses depois, mas o novo presidente, Emmanuel Macron, tem declarado que não permitirá o ressurgimento da “selva”.
Leia mais sobre a atuação da Frente Nacional nos primeiros meses do governo Macron:
A direita nacionalista ficou ausente, por muito tempo, do palco principal da política espanhola, pois a memória quente do franquismo funcionava como uma muralha invisível de contenção do extremismo de direita. O panorama mudou a partir da crise do euro, iniciada em 2010, e da ascensão do movimento separatista catalão, desde 2017.
Sob o impulso da crise do euro, dissidentes do tradicional Partido Popular (PP), de centro-direita, fundaram o Vox em dezembro de 2013. Santiago Abascal, antigo deputado do PP no parlamento regional basco, e Javier Ortega Smith, um advogado e ex-militar, são os dirigentes principais do partido de extrema-direita. Em dezembro de 2018, o Vox obteve 12 assentos no parlamento regional da Andaluzia, como resultado de uma campanha dirigida contra o separatismo catalão.
O Vox nasceu como partido recentralizador, atacando os estatutos de autonomia regional aprovados pelo Parlamento espanhol. Logo, adotou os discursos xenófobos e islamofóbicos comuns aos partidos da direita nacionalista europeia, combinando-os com um ultraconservadorismo católico reminiscente do franquismo. Nas eleições gerais de abril de 2019, o Vox ultrapassou a marca de 10% dos votos, convertendo-se no quinto maior partido do país.
Fundado em 1980, o partido Aurora Dourada se situa na extrema-direita do espectro político, com afinidades abertamente neonazistas, embora seus líderes rejeitem a comparação e prefiram definir-se como “nacionalistas”. Seu líder, Nikolaos Michaloliakos, afirmou em 2012 que as câmaras de gás usadas no Holocausto eram “mentira”.
O Aurora Dourada ganhou força sob o impacto da brutal crise de 2008, que afetou a sociedade grega de modo particularmente dramático. Contra as políticas impostas pela “burocracia de Bruxelas” e contra a entrada de imigrantes muçulmanos que chegam pelo Mediterrâneo oriental, o partido atingiu o terceiro lugar nas eleições gregas de 2015 obtendo 7% dos votos.
O União Cívica Húngara surgiu em 1988, como agremiação jovem empenhada em combater o regime comunista e colocar a Hungria no universo das democracias liberais. Amadureceram mal. Sob a liderança de Viktor Orban (foto), o partido ganhou projeção ao adotar um discurso xenófobo e autoritário, explorando os ressentimentos provocados pela crise econômica de 2008, que na Hungria deixou mais de 10% de desempregados.
O Fidesz conquistou cadeiras no Parlamento, tornou-se relevante e nas eleições de 2014 e 2018 fez a coligação majoritária, com Viktor Orban como primeiro-ministro. Como líder do governo, Orban declara-se abertamente anti-imigração e critica os “internacionalistas fanáticos” da União Europeia que, segundo ele, pretendem estar acima da lei e definir quem pode entrar nos países europeus. Em suas palavras:
“No início, os representantes da União Europeia falam apenas de algumas centenas, mil ou duas mil pessoas realocadas. Mas nem um único líder europeu responsável ousaria jurar que esse par de milhares não aumentará para dezenas ou centenas de milhares. Se quisermos impedir esta imigração em massa devemos, antes de mais nada, frear Bruxelas. O principal perigo para o futuro da Europa não vem daqueles que querem vir para cá, mas dos fanáticos do internacionalismo de Bruxelas. Não podemos permitir que Bruxelas se coloque acima da lei. Não permitiremos que nos imponham o fruto amargo de sua política de imigração cosmopolita. Nós não devemos importar para a Hungria o crime, o terrorismo, a homofobia e o antissemitismo que queima sinagogas. Não haverá distritos urbanos fora do alcance da lei, não haverá desordem em massa ou tumultos de imigrantes, não haverá gangues caçando nossas mulheres e filhas. Não permitimos que outros nos digam quem pode entrar em nossa casa ou país, com quem vamos morar e com quem dividiremos nosso país. Nós sabemos como essas coisas acontecem. Primeiro, permitimos que nos digam quem devemos aceitar, depois somos forçados a servir aos estrangeiros em nosso próprio país. No final, seremos instruídos a fazer as malas e deixar nossa própria terra. Portanto, rejeitamos o esquema de reassentamento forçado e não toleraremos chantagem nem ameaças ”.
Viktor Orban, xenofobia explícita
O Jobbik descreve-se como um partido “conservador, radicalmente patriota e cristão”, a opinião pública húngara descreve-o como neonazista e antissemita. O Jobbik surgiu em 2003 com uma milícia eliminando “indesejáveis”, inicialmente os ciganos, historicamente discriminados na Hungria. Condenados por vários assassinatos, a milícia do Jobbik foi declarada ilegal e extinta. Gradualmente, os que permaneceram no partido abandonaram o ultra-radicalismo para alcançar representatividade política. Em abril de 2018, o Jobbik obteve 20% dos votos e se tornou a segunda força política na Assembleia Nacional da Hungria.
A relativa moderação do Jobbik abriu caminho para outra agremiação, ainda mais racista, o Força e Determinação, criado em julho de 2017. Além de anti-imigração, são homofóbicos e anti-liberais.
Lançamento do Força e Determinação na cidade de Vecsés, em julho de 2017
Zsolt Tyirityán, líder do grupo, apropriou-se da ideologia nazista do lebensraum (espaço vital) para tratar da política nos dias de hoje, dizendo: “A história mundial é […] a luta para manter o espaço vital […]. Qualquer maneira que você olhe, o mais forte sempre vence. […] Eu tenho consciência de raça. Tenho orgulho de ser um europeu branco… E me reservo o direito de defender isso”. E mais: “Declaramos guerra ao liberalismo. Ele é o nosso principal inimigo e faremos de tudo para destruir os seus ideais junto ao nosso povo… Estas pessoas perdem a sua nacionalidade, a sua consciência de raça e logo a sua identidade sexual. Essas pessoas devem ser forçadas a sair do nosso espaço vital ”.
O primeiro ministro Viktor Orban destacou-se em meio à crise de 2015/2016 por dificultar ao máximo o acesso dos refugiados sírios e outros imigrantes aos demais países da Europa Ocidental, e especialmente à Alemanha, cujo governo de Angela Merckel foi o único a empenhar-se para receber os refugiados. Além de barrar as pessoas na fronteira, dificultando a emissão dos papeis de controle para circulação no espaço europeu, o governo húngaro criou acampamentos para os imigrantes considerados críticos por organizações humanitárias.
Entre os exemplos chocantes, em setembro de 2015 refugiados em Budapeste embarcaram em um trem pensando seguir em direção à Áustria, quando na verdade foram levados para um campo de refugiados em Bicske, na Hungria. Não escapou ao chanceler austríaco Wener Faymann a comparação com os métodos nazistas: “Colocar refugiados em trens com destino diferente ao esperado por eles nos traz memórias do período mais sombrio do continente”, disse em entrevista.
A Liga Norte nasceu como partido político em 1991, da reunião de movimentos regionalistas diversos, como a Liga Lombarda, a Liga Véneta e a Alianza Toscana. Em comum, a contestação ao centralismo político de Roma, responsável por drenar os recursos das províncias do norte para a burocracia governamental e para as províncias pobres do sul, de onde obteriam sustentação política (eles diziam, “Roma ladrona”). Com a “Operação Mãos-Limpas”, a partir de 1992, e o desmascaramento da corrupção política, a Liga Norte adotou uma posição anti-establishment, propondo a secessão pura e simples.
Ganhou votos regionais; aliou-se ao Força Itália, de Silvio Berlusconi, em 1994. Caminhou para o centro e trocou a retórica separatista pelo nacionalismo xenófobo, anti-imigrante. É fundamental, para marcar essa mudança, o abandono do “Norte” pela “Liga”, que agora fala em nome de todos os italianos, cristãos e brancos, contra a “invasão” – como a Liga descreve – de migrantes muçulmanos que chegam às centenas diariamente pelas ilhas do sul da Itália, como Lampedusa. Isso quando as precárias embarcações onde viajam conseguem chegar até elas, ou quando os navios da marinha os socorrem impedindo que se afoguem em mais um naufrágio.
Islamophobia Watch. Cartaz da Liga com os dizeres “Pare a invasão islâmica”
A reorganização do Liga também inclui a incorporação do euroceticismo como traço discursivo e, por extensão, o antiglobalismo. São os mesmos traços da Frente Nacional Francesa, o populismo nacionalista avança. As urnas comprovam: a Liga passou de 4% dos votos no início dos anos 2000 para os atuais 17%, sob a nova liderança de Matteo Salvini.
O eleitorado da Liga cresce no operariado empobrecido e assustado com a competição por empregos e pelas verbas de assistência social. Para eles os refugiados são favorecidos em relação aos nacionais, que acabam prejudicados. A insatisfação é evidente, pois a classe trabalhadora é quem mais depende do serviço público. A extrema-direita recorre todo o tempo a essa ideia, que produz um culpado fácil e evita a discussão sobre administração pública e corrupção.
Nas eleições de março de 2018, a Liga conquistou 17% dos votos e se tornou a segunda força política no Parlamento, projetando Matteo Salvini como uma nova liderança nacional, enquanto o Força Itália, de Silvio Berlusconi, obteve magros 14% e a centro-esquerda, apenas 21% dos votos. Tão preocupante quanto o avanço da Liga foi a vitória do partido anti-establishment, o Movimento 5 Estrelas (M5S), com 32% dos votos, pois mais do que uma escolha, foi um protesto da sociedade contra o sistema político. No fim, a vantagem será não necessariamente dos que tem maior número, mas maior clareza de objetivos.
Depois das eleições, numa longa novela, os dois partidos populistas vencedores abrandaram suas divergências políticas e, de inimigos jurados, converteram-se em parceiros de governo. A aliança entre o M5S e a Liga deixou de lado o confronto com a União Europeia e o euro, organizando-se em torno da xenofobia. O fechamento das fronteiras aos imigrantes e refugiados e o aumento do controle sobre as mesquitas formam o núcleo do acordo político que propiciou a formação do governo liderado, em parceria, por Luigi di Maio (M5S) e Matteo Salvini (Liga).
O primeiro grupo de extrema-direita organizado no Reino Unido surgiu em 1931, com o União Britânica Fascista (British Union of Fascists – Blackshirts), liderado por Sir Oswald Mosley. O movimento seguia o perfil fascista da época; se opunha ao comunismo e defendia um Estado protecionista na economia, declaravam apoio publicamente à Alemanha hitlerista e exploravam a simpatia de setores da família real em relação a uma aproximação com o 3º Reich. A vitória do país sobre o Eixo calou a extrema-direita por décadas.
Até que nos anos sessenta e setenta a extrema-direita reapareceu, em um ambiente de choque cultural provocado pelo aumento do número de imigrantes vivendo no país, oriundos de ex-colônias como a Índia, Paquistão, Uganda, Jamaica. A questão racial era explicitada: o Reino Unido era branco e todos os que estivessem fora dessa classificação não só não deveriam ser tratados como cidadãos, mas deveriam ser expulsos!
O Frente Nacional Britânica (British National Front) surgiu em 1967 com esse discurso. Sua base era a classe média baixa e no operariado das cidades do norte e do East London (que vota na extrema-direita desde 1930). As sucessivas crises econômicas na década de 1970 (choques do petróleo, estagflação, declínio do carvão) não só cortaram empregos, mas puseram em xeque o próprio welfare state, que passou a sofrer cortes em nome do equilíbrio das contas públicas e da retomada de investimentos produtivos. Com a chegada de Margareth Thatcher ao governo (1979-1990) as ideias liberais foram oficialmente adotadas como receituário de política-econômica. A crise social acentuou-se e o ódio aos imigrantes também.
O BNF seguiu pequeno, mas cresce agora no movimento geral da política para a direita. Em seu atual programa, encontramos afirmações racistas, como a defesa de repatriação dos imigrantes, e críticas à União Europeia. Naturalmente, o partido extremista apoiou o Brexit.
Em 1982 a Frente Nacional rachou e parte dela formou o Partido Nacionalista Britânico (British National Party – BNP). Com o slogan “priorizando o povo local”, seus seguidores dizem defender a “preservação da preciosa e única identidade britânica” contra os imigrantes. Na versão século XXI, imigrante agora é muçulmano. Curiosamente, seu programa defende o isolacionismo externo junto com a assinatura de tratados de paz com as nações muçulmanas e a retirada de tropas britânicas de “terras do Islã”.
O mais recente dos movimentos de extrema direita a ganhar expressão foi o Liga de Defesa Inglesa (English Defense League), formado em 2009. Seu foco é a imigração muçulmana e a ameaça de islamização do Reino Unido. O grupo sugere uma ação contra-jihadista para barrar a “islamização”. A retórica do EDL é chauvinista: judeus, sikhs, comunidade LGBT, não-cristãos e não-brancos não devem ter os mesmos direitos que o verdadeiro “povo”, branco e cristão, e devem se retirar.
O Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP) foi a primeira agremiação nacionalista a se tornar uma força na política britânica. Talvez porque sua origem seja menos comprometedora do que seus pares. O UKIP nasceu em 1993 com gente da London School of Economics cuja intenção era confrontar o recém-assinado Tratado de Maastricht (1992) e sua promessa de união monetária. Desde o início era a rejeição à integração com a Europa o que estava em pauta.
Entrou no Parlamento Europeu em 1999, com 7% dos votos e 3 cadeiras. Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu eles foram os mais votados, conquistando 27,5% dos assentos. Nos últimos anos, a postura eurocética combinou-se com uma forte posição anti-imigração, seguindo o mesmo percurso dos demais partidos de extrema-direita observados nos outros países europeus.
Com a chegada de Nigel Farage à liderança do UKIP, em 2010, o partido começou a buscar maior visibilidade, aumentando as críticas à Bruxelas e pedindo uma consulta popular sobre a permanência do Reino Unido na zona do euro. E então, naquilo que se tornou um ato de suicídio político espantoso, o primeiro-ministro do Partido Conservador, David Cameron – que tinha acabado de ganhar as eleições parlamentares em 2015 com folga, vendo-se pressionado pela parcela mais conservadora da opinião pública a controlar a imigração facilitada pelo passaporte europeu, que levava “poloneses” para o país – chama um referendo, o Brexit (da contração british e exit), para junho de 2016, com a certeza de que venceria fazendo campanha pela permanência. O Brexit venceu, Cameron teve que renunciar.
Nigel Farage em campanha pelo Brexit
Aparentemente o UKIP era o grande vencedor e todos se voltaram para Farage aguardando as novas propostas para esse Reino Unido sem União Europeia. O partido comemorava a vitória da “independência”, mas amargava a baixa representatividade política alcançada no Parlamento. O próprio Farage não conseguiu ser eleito em seu distrito e decidiu deixar a política, não sem antes declarar que o partido estava satisfeito por haver alcançado seu maior objetivo! Desde então o UKIP vive uma crise de comando, já tendo passado por quatro líderes, todos islamofóbicos e, às vezes, homofóbicos também. O futuro é incerto, mas o UKIP já gravou seu nome na história do Reino Unido.
Logo após o Brexit, em junho de 2016, episódios de racismo e xenofobia multiplicaram-se Reino Unido afora, especialmente nos primeiros meses após o referendo, enquanto os crimes de islamofobia praticamente dobraram desde 2015, segundo o governo britânico.
Sayeeda Warsi, primeira muçulmana a ocupar o posto de ministra no Reino Unido, durante o governo Cameron, declarou em uma entrevista que desde o anúncio do Brexit pessoas têm sido paradas na rua e “aconselhadas” a deixar a Inglaterra. Em suas palavras: “Passei a maior parte do fim de semana conversando com organizações, indivíduos e ativistas que trabalham na área de crimes de ódio racial, que monitoram crimes de ódio, e eles mostraram alguns resultados iniciais realmente perturbadores de pessoas sendo paradas na rua e dizendo: votamos Leave, é hora de você sair, […] e eles estão dizendo isso para indivíduos e famílias que estão aqui há três, quatro, cinco gerações. A atmosfera na rua não é boa.”
Cidadão inglês, na cidade de Romford, veste camiseta com os dizeres “Sim! Nós ganhamos! Agora mande-os embora”. (Fonte: twitter oficial de Jim Waterson, editor político do @buzzfeeduk)
Fundado em 1971, é um partido conservador tanto no âmbito social quanto no âmbito econômico. Opôs-se à entrada da Suíça na ONU, em 2002, e também se opõe à participação na União Europeia, além de ser anti-imigração. Tem maior apoio em áreas rurais do país, mas vem ganhando influência também nas cidades. Em 2011, tornou-se o maior partido do país ao ser escolhido por 26.6% dos eleitores. Em 2015, obteve 29.4%, ganhando 65 das 200 cadeiras do Parlamento.
A crise de refugiados foi possivelmente uma das principais razões para o aumento do apoio ao SVP, conquanto a Suíça tenha recebido poucos imigrantes em comparação a outros países europeus.
O cartaz é de uma campanha lançada pelo SVP em 2007 propondo expulsar estrangeiros condenados por crimes no país. As cores berram como ovelhas
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