A extrema-direita venceu. Em 14 de abril completaram-se 44 dias do bloqueio da entrada de alimentos, combustível e até vacinas para bebês na Faixa de Gaza imposto pelo governo israelense de Benjamin Netanyahu,sob o pretexto de privar o Hamas de recursos. Enquanto isso, mais de dois milhões de seres humanos que ali mal vivem são vítimas de um massacre cotidiano. Agora, mães e avós ouvidas em reportagens internacionais contam que, depois de sobreviverem às bombas, suas crianças correm o risco de morrer de fome.
Durante a trégua, a ajuda chegou, mas ela está no fim. Usar a fome como arma de guerra contra civis é crime de guerra
Após o breve cessar-fogo usado para negociar a libertação dos reféns israelenses e fazer um gracejo para Donald Trump, que chegou anunciando a paz, Israel voltou a lançar ataques indiscriminados que deixam dezenas de vítimas sob os escombros. A ofensiva mira civis: no 2 de março, Israel fechou a passagem dos caminhões que carregam ajuda humanitária.
No dia 23, quinze socorristas que se deslocavam em ambulâncias do Crescente Vermelho identificadas e iluminadas, como mandam as convenções internacionais, foram assassinados por militares israelenses que abriram fogo intencionalmente e, depois, enterrados em vala comum. Graças às imagens recuperadas do celular de um dos socorristas mortos e à busca pelos corpos das vítimas, as forças armadas de Israel foram obrigadas a recuar do álibi sobre terroristas infiltrados e abrir uma investigação interna. Até os profissionais de saúde israelense protestaram contra a ação bárbara.
O ataque a alvos civis ou a punição coletiva em quadros de guerra são crimes contra a humanidade. Assim como o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro que deflagrou essa carnificina. Mas, além dos civis massacrados, o maior perdedor da guerra certamente é o Estado de Israel, que perdeu sua alma. O Estado que nasceu em resposta ao Holocausto não liga mais para o desastre humanitário. Tornou-se sua causa.
E isso não se deve a um suposto “vício de origem”, mas ao fato de que, em Israel também, os partidos da extrema-direita tornaram-se uma força central na política. O avanço de ideias supremacistas não começou agora e a questão da natureza democrática do Estado israelense já estava em risco desde que o Knesset (Parlamento) aprovou uma lei declarando o caráter judaico do Estado. Esses mesmos partidos também sempre se opuseram aos Acordos de Oslo e à existência de dois Estados na Palestina.
Abaixo assinado subscrito por reservistas da aeronautica criticando a condução da guerra
Mas nem todos concordam com essa situação, incluindo membros das comunidades judaicas no exterior. Como em outros países, a sociedade israelense está politicamente dividida e os partidos de esquerda estão muito enfraquecidos. A publicação em vários jornais israelenses (7/4), de uma carta assinada por mil reservistas da aeronáutica criticando a condução das operações militares por não priorizar o resgate dos reféns e colocar vidas em risco para alcançar objetivos políticos teve como resposta a dispensa dos mil reservistas três dias depois (10/4).
A represália não calou as vozes que ainda se levantam contra os extremistas. No 11 de abril, cerca de 250 reservistas da unidade de elite 8200 da inteligência militar israelense firmaram uma carta pública de apoio aos companheiros da aeronáutica.
A “pax trumpiana” ofereceu um condomínio de lucrativas possibilidades imobiliárias para o futuro de Gaza, desde que previamente esvaziada de seus habitantes. O governo de Israel pescou a ideia e já trabalha para estimular o que chamam cinicamente de “emigração voluntária” dos palestinos para a Jordânia, Egito ou qualquer outro país que aceite recebê-los. Muitos afirmam que os atuais ataques e, sobretudo, a fome infligida a todos os civis têm esse objetivo: forçá-los a sair.
Na semana passada (07/04), os chefes de seis organizações da ONU, incluindo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), subscreveram um apelo aos líderes mundiais para que ajudem a proteger palestinos em Gaza. “Os sobreviventes em Gaza estão sendo reiteradamente deslocados e forçados a viver num espaço cada vez menor, onde as necessidades básicas não podem ser atendidas”, afirmou Stéphane Dujarric, porta-voz do Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres. A limpeza étnica já entrou em fase de planejamento ativo.
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