DUAS COREIAS, RELÍQUIA DA GUERRA FRIA

 

Guerra da Coreia

A divisão da Coreia em dois Estados surgiu dos acordos militares feitos ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-45), no contexto da guerra ao Japão. Sua consolidação refletiu a polarização ideológica da Guerra Fria e foi uma de suas primeiras expressões. Desde então existe a República da Coreia, que fica na porção sul da península coreana e tem sua capital em Seul, e a República Popular Democrática da Coreia, ao norte, com capital em Pyongyang.

A existência das duas Coreias é objeto de debates desde o início, pois acreditava-se que a reunificação era desejada por todos, embora cada lado agisse para submeter e absorver o vizinho ao “seu” Estado. Contudo, o fim da Guerra Fria e novas gerações de líderes na Coreia do Sul trouxeram novas abordagens para o problema, reconhecendo a Coreia do Norte como um fato histórico e geopolítico. Nas últimas décadas, as diferenças entre as duas Coreias se aprofundaram tanto que parcelas crescentes dos sul-coreanos já dizem abertamente não quererem assumir os custos econômicos de uma hipotética reunificação.

Além da desigualdade econômica e tecnológica entre as duas Coreias, há um ponto muito mais importante: a Coreia do Norte é o país mais fechado do mundo, governado por uma ditadura totalitária absolutamente eficaz em sua capacidade de manter toda a população sob controle, mesmo que para isso toda a lista de violações dos direitos humanos seja percorrida.

Contudo, o mundo pouco fala dessa situação, pois os governos e os jornais concentram sua atenção na ameaça nuclear que a Coreia do Norte representa e como isso influi na ordem geopolítica do Extremo-Oriente. Já os ditadores norte-coreanos entenderam que a sua sobrevivência política depende muito mais dessas armas do que de cederem a apelos humanitários e promessas de ajuda.

Aqui, examinamos como se desenrolam essas duas questões afeitas aos direitos humanos. Nesta primeira parte, a partir da ótica externa, que promoveu a divisão da nação e desemboca na questão nuclear. Na segunda parte, pela análise do funcionamento interno do regime norte-coreano, que oprime e explora a população em níveis não encontrados em nenhum outro lugar do mundo.

 

“Reino eremita”

Até o século XIV, a península da Coreia estava dividida em três reinos, que disputavam a hegemonia entre si, até serem unificados e formarem o Reino Joseon. Um deles, Goryeo, é a fonte do nome Coreia. Durante séculos ligada ao budismo, a população passou a ser influenciada pelo confucionismo a partir da unificação dos reinos. 

AlfabetoCoreano

O alfabeto coreano – hangeul – é fonético, com 24 consoantes e vogais. Ele foi criado no século XIV para facilitar a educação do povo

A localização geográfica da península transformou suas terras em área de disputas multisseculares entre vizinhos poderosos: chineses, manchus, japoneses e russos cujas investidas militares causaram tantas destruições que o reino se fechou em si mesmo e era chamado pela diplomacia do século XIX de “reino eremita”.

O isolamento fortaleceu a cristalização de uma ordem social altamente hierarquizada, baseada na doutrina confucionista. A elite era formada pelos sanrbans, misto de senhores de terras e doutores em leis, que ascendiam a essa posição por herança. As mulheres tinham deveres estritamente regulamentados. A economia dependia do trabalho camponês e, sobretudo, de uma enorme quantidade de gente escravizada, que em alguns períodos chegou a corresponder a 30% da população. O sistema de escravidão só foi proibido na Coreia a partir de 1894.

 

Disputas imperialistas

Industrialização e imperialismo andaram juntos no século XIX e engolfaram todo o planeta no jogo de disputas, atritos e tratados diplomáticos com os quais as potências ocidentais dividiram o mundo. A Coreia ganhava interesse pois, além do acesso ao mar, oferecia grandes áreas de mineração localizadas nas áreas mais montanhosas, ao norte da península.

O despontar do Japão Meiji como força industrial e militar desencadeou disputas com a Rússia pelo controle da Coreia e de todo o Mar do Japão.  Se, em 1895, o Tratado de Shimonoseki obrigou a China a ceder ao Japão a soberania sobre Taiwan e abrir mão de qualquer reivindicação sobre a Coreia, em 1905 foi a vez da Rússia ser derrotada e assinar o Tratado de Portsmouth. Mediado pelo presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, e favorável ao Japão, o acordo produziu um arranjo nipo-americano logo em seguida materializado no Acordo Taft-Katsura, pelo qual os EUA reconheciam os interesses do Japão na Coreia em troca da garantia japonesa de não questionar a transformação das Filipinas em colônia americana.

Mapa do Império Japonês

Ainda em 1905, prosseguindo com o jogo das aparências, o governo japonês e o governo coreano “negociaram” o Tratado de Eulsa, transformando a península coreana em protetorado nipônico. Cinco anos depois, no 29 de agosto de 1910, tropas japonesas ocuparam o país. Até 1945 a Coreia seria profundamente impactada pela presença japonesa.

A colonização modernizou minas, construiu hidrelétricas, trazendo eletricidade, siderúrgicas e fábricas, de modo geral concentradas no norte da península e na vizinha Manchúria. O proletariado se expandiu rapidamente e ideias socialistas começaram a chegar. A economia cresceu integrada ao sistema de produção japonês e houve um acelerado processo de urbanização. O governo ocupante fez do idioma japonês a língua oficial da Coreia, ensinado nas escolas e falado nas ruas. As dissidências nacionalistas eram perseguidas.

No 1º de março de 1919 milhares de coreanos saíram às ruas para protestar contra a dominação japonesa. A resposta da força ocupante deixou 23 mil mortos e feridos e quase 50 mil presos. Algumas lideranças nacionalistas partiram para o exílio, formando um governo apoiado pelos EUA em Xangai. Nesse grupo, destacava-se a figura de Syngman Rhee. Pela esquerda, surgiu um movimento de resistência armada na Manchúria, do qual despontaria a figura de Kim Il Sung.

Korean_forcedlabourers_Hokhaido

Trabalhadores coreanos levados para a iha de Hokhaido, no Japão

 

Derrotando o Japão

A Coreia participou da Segunda Guerra Mundial subordinada ao Império do Sol Nascente. Cerca de 725 mil coreanos foram alistados à força, empregados como mão de obra tanto no Japão quanto nos territórios ocupados. Em 1945, aproximadamente um terço da força de trabalho industrial no Japão era formada por coreanos, em condições próximas à escravidão. Enquanto isso, milhares de coreanas eram transformadas em “mulheres de conforto” e forçadas à prostituição e escravidão sexual nos bordeis japoneses.

Desde a assinatura da Carta do Atlântico, em 1942, o princípio da autodeterminação dos povos foi reconhecido pelos Aliados como um pilar da reconstrução da ordem mundial após a derrota do Eixo. Em 1943, a Conferência do Cairo previu a independência da Coreia. Enquanto isso, forças coreanas uniram-se tanto aos nacionalistas quanto aos comunistas chineses para combater o Japão.

Kim Il Sung jovem

O jovem Kim Il Sung, guerrilheiro que foi para as montanhas da Manchúria resistir ao império japonês

Contudo, para efeitos de operação militar, americanos e soviéticos haviam planejado uma ocupação conjunta da península coreana. Os dois exércitos avançariam até o paralelo 38 (escolhido pelos EUA), vindos de norte e sul, para destruir o que restava de forças japonesas. Em 12 de agosto de 1945 os soviéticos começaram a invasão do norte da Coreia. Já as tropas americanas desembarcaram no porto de Inchon em 8 de setembro.

Em 1947, a recém-fundada Organização das Nações Unidas emitiu um relatório aconselhando a reunificação do governo do país, proposta rejeitada por Stalin. A recusa levou Syngman Rhee, líder dos nacionalistas coreanos, a organizar eleições para agosto de 1948, que resultaram na proclamação da República da Coreia e em sua eleição como primeiro presidente. Como resposta, em 9 de setembro foi proclamada, em Pyongyang, a República Popular Democrática da Coreia, comunista, governada por Kim Il Sung, transformado em herói da resistência à ocupação japonesa. Na prática, os soviéticos governavam interinamente o norte da península.

 

Guerra da Coreia (1950-1953)

Para os EUA, a situação geopolítica da Coreia era temporária, mas os soviéticos decidiram apoiar o Partido dos Trabalhadores, controlado por Kim Il Sung, e assim assegurar sua influência na península. A perseguição aos nacionalistas levou milhares de refugiados para o sul. A militarização dos dois territórios cresceu rapidamente. Em março de 1950, Kim Il Sung obteve autorização de Stalin para atacar as terras ao sul do paralelo 38, com o objetivo de unificar o país sob a bandeira comunista.

A resposta dos EUA foi dar apoio material ao exército sul-coreano, enquanto  o presidente Harry Truman levava o assunto diretamente ao Conselho de Segurança da ONU (CS). A Assembleia Geral condenou a invasão e, em 27 de junho, aprovou-se o envio de assistência militar à República da Coreia. O CS adotou as resoluções propostas, que poderiam ter sido vetadas caso a URSS não tivesse se retirado da reunião, erro que a superpotência comunista nunca mais cometeu.

Quando ficou claro que a operação militar tinha a meta de reunificação da península, Kim Il Sung recorreu a Mao Tsé-tung. Os comunistas chineses haviam conquistado o  poder em outubro de 1949 e as forças de ambos haviam lutado juntas na Manchúria. Uma Coreia comunista significava um ganho estratégico tanto para a China quanto para a União Soviética. Kim obteve o compromisso de cobertura aérea da União Soviética, além do envio de soldados coreano-soviéticos para lutar, enquanto Mao enviou centenas de milhares de homens para apoiar os comunistas coreanos.

As operações americanas impuseram grandes danos a infraestruturas e fábricas, que se concentravam ao norte do paralelo 38 e davam vantagens ao inimigo.  Mesmo assim, as tropas do norte conseguiram avançar sobre as terras ao sul do paralelo, gerando uma resposta igualmente violenta e rápida dos americanos para empurrá-los de volta.

O fato é que a chegada de novos contingentes de soldados, somada às imensas baixas, obrigaram ambas as coalizões a admitirem que a paz não seria imposta militarmente, pelo menos a um custo aceitável. Na hora do impasse militar , o general americano Douglas MacArthur chegou a propor o recurso a armas nucleares, o que foi vetado pelo governo dos EUA. 

As maiores vítimas da guerra foram os civis coreanos, camponeses famintos em sua maioria, atacados e mortos por serem, por parecerem ser ou por não serem comunistas. Os dois lados da guerra – os exércitos rivais coreanos e seus aliados externos – cometeram atrocidades, inclusive por confundirem refugiados com guerrilheiros.

 Refugiados Sul Coreanos

Êxodo de refugiados sul-coreanos

 

Anos de impasse

Enquanto discutia-se uma solução negociada por intermédio da ONU, o Conselho de Segurança dos EUA decidiu, em maio de 1951, que o país apoiava a reunificação e democratização da Coreia, com base na Doutrina Truman. Já Mao Tsé-tung inclinava-se por  manter uma guerra de baixa intensidade, enquanto negociava com os EUA e tentava exibir um poderio superior ao que tinha. 

A primeira conversa entre representantes das duas coalizões ocorreu em 8 de julho de 1951, mas os termos para um acordo que pusesse fim ao conflito só seriam alcançados dois anos mais tarde. O conflito perdurou como guerra de atrito, sem as violentas ofensivas e contra-ofensivas do primeiro ano.

Mapa Guerra da Coreia

No final de outubro de 1953, as negociações foram transferidas para a vila de Panmunjom. Lá, definiram-se a linha de demarcação militar e uma zona desmilitarizada (DMZ), distinguindo-se claramente dois territórios submetidos a governos rivais. Restava, contudo, um impasse: o problema dos prisioneiros de guerra.

A Convenção de Genebra determina a devolução de todos os prisioneiros de guerra aos seus países de origem após o término do conflito. Quando os dois lados trocaram listas de “desaparecidos em ação” e “prisioneiros de guerra”, os resultados da contagem chocaram a todos os participantes. Os EUA reportavam 11.500 militares desaparecidos, mas os norte-coreanos relatavam ter a custódia de apenas 3.198 americanos e 1.219 homens das forças da ONU. A conta dos soldados sul-coreanos do sul era ainda pior: de 88 mil desaparecidos, apenas 7.142 foram encontrados. 

As diferenças escancaravam a deliberada política de extermínio de prisioneiros de guerra pelas forças do norte. A maioria desses homens morreu em batalha, mas muitos morreram por tortura, execução, fome e falta de assistência médica.

Sobre os retornados, pairava a sombra da desconfiança, que conduzia a longos interrogatórios. Seriam agentes infiltrados?

 

Guerra suspensa

Muitas reuniões depois, no lugar de um acordo de paz encerrando a guerra o que se obteve foi um armistício, ou seja, um tratado militar de cessar-fogo, estabelecendo o mesmo paralelo 38 como linha divisória. A proposta não punha fim à guerra, mas encerrava as hostilidades e permitia a todos os envolvidos cantar vitória: ninguém recuou, ninguém perdeu. 

Foi a morte de Stalin, em 5 de março de 1953, que provocou o desenlace. Semanas depois, o novo Politburo em Moscou votou pelo fim do conflito na Coreia. Em Pequim, Mao sabia que não poderia sustentar a guerra sem a ajuda soviética. De repente, os chineses aceitaram a repatriação voluntária dos prisioneiros, que foram liberados imediatamente, e os que permaneceram foram postos sob custódia de uma agência ligada à ONU para triagem. 

Assinatura do Armistício Coreano

Assinatura do armistício de Panmunjom, em julho de 1953

 

Os militares americanos convenceram Syngman Rhee a aceitar o armistício, embora nenhum representante da República da Coreia o tenha assinado. No dia 27 de julho de 1953, assinaram o acordo apenas o general Mark W. Clark, representando as forças da ONU, o general Peng Dehuai, pelos chineses, e Kim Il Sung representando o governo norte-coreano.

Imediatamente operou-se o desengajamento militar nos quatro quilômetros de largura previstos como zona desmilitarizada (DMZ). Conforme estabelecido, os Estados Unidos organizaram uma conferência em Genebra sobre o futuro político da Coreia. As reuniões não produziram nenhum acordo e o povo coreano acabou prisioneiro nas tramas da Guerra Fria.

 

DUAS COREIAS

SyngRhee_1956

Syngman Rhee foi o primeiro coreano a obter doutorado em uma universidade americana (Princeton). Ele foi eleito presidente Coreia do Sul em 1948, 1952, 1956 e 1960, caindo em meio a uma revolta popular

Com o tempo, as duas Coreias se tornaram cada vez mais diferentes, estabilizando-se como Estados separados. A Coreia do Sul viveu décadas sob governos militares nascidos de golpes de Estado, mas seguiu um caminho de investimento em educação e tecnologia. Em 1993, concluindo uma transição democrática, os sul-coreanos elegeram seu primeiro presidente civil por voto direto. A Coreia do Norte seguiu o caminho da estatização econômica e da autotransformação em Estado totalitário que tem se demonstrado capaz de resistir a todas as mudanças da ordem internacional.    

Em setembro de 1991, na onda das mudanças provocadas pela queda do Muro de Berlim e poucos meses antes do desaparecimento da União Soviética, a ONU admitiu o ingresso formal dos dois Estados coreanos como membros ativos. Em 1994, Kim Il Sung, o “Eterno Líder” da Coreia do Norte, saía definitivamente de cena após uma longa doença. Seu sucessor e filho, Kim Jong Il, assumiu o poder em meio à mais brutal crise de fome vivida pelo país e dobrou a aposta no isolamento internacional.

Na Coreia do Sul, muitos viviam o drama da separação familiar provocada pela divisão do país e sabiam sobre a tragédia da fome no Estado vizinho. Em 1998, Kim Dae-Jung foi eleito presidente da República da Coreia propondo uma nova abordagem para a Coreia do Norte, a “Política do Sol Radiante” (Sunshine Policy). Dae-Jung mandou trocar a palavra “unificação” que costumava aparecer nos documentos apresentados ao vizinho comunista por “coexistência pacífica” e “cooperação sem absorção”.

A Política do Sol Radiante entendia que era necessário construir o diálogo antes de falar em unificação; era preciso baixar as armas e conversar. A prioridade: ajudar as pessoas que viviam em condições de miséria na Coreia do Norte. A orientação política previa: a) retomar o diálogo; b) cooperação econômica; c) reunificação familiar; d) ajuda alimentícia e humanitária; e) esforço internacional para baixar as tensões. A nova abordagem resultou em um inédito encontro entre os chefes de Estado das duas Coreias em Pyongyang, no ano 2000.

Coreanos assistem jogo da Copa

O Campeonato Mundial de Futebol realizado conjuntamente pelo Japão e Coreia do Sul, em 2002, foi parte fundamental do jogo reposicionamento diplomático do país no cenário internacional

 

No “Eixo do Mal”

Parte dos frutos da Sunshine Policy se perdeu quando o presidente dos EUA, George W. Bush, em resposta ao ataque terrorista às Torres Gêmeas, em 2001, anunciou a “Guerra ao Terror” contra o “eixo do mal”, e incluiu a Coreia do Norte no rol de países com alto potencial terrorista. Kim Jong Il levantou defesas e interrompeu as conversas com Seul. A atitude belicosa de Washington teve efeito contrário ao desejado, convencendo o líder da Coreia do Norte de que somente armas nucleares protegeriam o país de um ataque dos EUA.

De qualquer modo, a reponsabilidade também é de Pyongyang, pois o governo norte-coreano nunca deu um sinal sério de comprometimento com as negociações, optando por manter as provocações militares. Apesar de tudo, a Coreia do Sul manteve uma atuação proativa, fornecendo ajuda humanitária ao vizinho.

Misseís balísticos Coreia do Norte

Mísseis balísticos da Coreia do Norte 

Em 2006 a Coreia do Norte realizou seu primeiro teste nuclear. Em resposta, o Conselho de Segurança da ONU impôs uma série de sanções comerciais e econômicas ao país, que conduziram a um novo acordo. Em 4 de outubro de 2007, o presidente sul-coreano Roh Moo-Hyun e o norte-coreano Kim Jong Il assinaram um protocolo que abordava desde a paz permanente até cooperação ferroviária e criação de uma seleção olímpica conjunta.

Dois anos depois, a Coreia do Norte realizou um segundo teste nuclear.

 

O rato que ruge

Em nova sucessão dinástica, a morte do ditador norte-coreano levou seu jovem filho Kim Jong Un ao poder, em 2011. As expectativas iniciais de uma possível reviravolta capaz de provocar alguma mudança frustraram-se frente às medidas draconianas tomadas pelo jovem ditador desde então, que endureceram ainda mais uma situação já brutal para os norte-coreanos. Na última década a Coreia do Norte intensificou os testes de armas nucleares e mísseis balísticos, com direito a insultos e ameaças à Coreia do Sul e aos Estados Unidos.

A chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2017, com um discurso belicoso contra Pyongyang reforçou a aposta no poder nuclear. Mas Trump mudou sua linha e começou a buscar uma aproximação com Kim Jong Un, a quem passou a tecer elogios enquanto ignorava as graves denúncias de violações de direitos humanos que se acumulavam contra o país.

Depois de alguns encontros e rodadas de negociações infrutíferas, Trump conseguiu a foto que queria: uma visita oficial à Coreia do Norte onde foi recebido com toda a pompa por Kim Jong Un, em 30 de junho de 2019, na zona desmilitarizada, para “um aperto de mão pela paz”, como explicou o presidente sul-coreano Moon Jae-in.

Trump encontra Kim Jong Un

Trump encontra Kim Jong Un em 30 de junho de 2019, na zona desmilitarizada entre as duas Coreias

 

O desenvolvimento de capacidade nuclear do pequeno e miserável país tem provocado uma série de desdobramentos na geopolítica do Extremo-Oriente. Em primeiro lugar, porque o Japão se sente diretamente ameaçado. Em alguns de seus testes, os norte-coreanos lançaram mísseis balísticos que sobrevoaram o espaço aéreo japonês, antes de cair no mar.

O tratamento dispensado ao ditador norte-coreano por Trump também acendeu o alerta na Coreia do Sul sobre sua verdadeira força nesse jogo. O país gasta 2,6% do seu PIB e 15% do seu orçamento anual com as forças armadas e mantém o serviço militar obrigatório mas todos sabem que a segurança país depende das tropas que os EUA mantêm em seu território.

Como resposta à ameaça representada pela Coreia do Norte nuclearizada, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão realizam periódicos exercícios militares conjuntos em mar e terra. Para Kim Jong Un, tais operações confirmam a hostilidade do Ocidente e justificam a propaganda de um regime que, supostamente, enfrenta a maior potência militar do mundo. 

 

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