Em 2011, uma revolução popular derrubou o governo de quase 30 anos de Ali Abdullah Saleh, presidente do Iêmen. Com um acordo resultante da influência sobre partes do exército, ele transferiu o poder para o vice-presidente Abd Rabbo Mansour Hadi. Os iemenitas iniciaram um processo de diálogo com vistas a elaborar uma Constituição, mas o novo presidente Hadi não conseguiu administrar os inúmeros problemas que se apresentavam, incluindo ataques da Al-Qaeda; movimentos separatistas no sul; a corrupção; o desemprego e a insegurança alimentar.
A partir de 2014, os conflitos ressurgiram, envolvendo as forças do governo, os Houthis e outros grupos armados. Em setembro, os houthis e tropas alinhadas com o ex-presidente Saleh conquistaram a capital, Sana’a, e avançaram sobre outras partes do país. O movimento político-religioso Houthi – de base xiita zaidita – é a maior força de oposição ao governo, desde a década anterior. Desiludidos com a transição, muitos iemenitas comuns – incluindo sunitas – apoiaram os houthis.
Alarmada com a ascensão de um grupo aliado do Irã, a Arábia Saudita formou, em 2015, uma coalizão com o Bahrein, o Egito, a Jordânia, o Kuwait, o Marrocos, o Senegal, o Sudão e os Emirados Árabes Unidos para – a “pedido” do Presidente Hadi – iniciar uma ação militar para restaurar o seu governo. Os Estados Unidos, Reino Unido e França atuam como conselheiros da coalizão. As campanhas aéreas por eles arquitetadas causaram importantes baixas civis. Em 8 de outubro de 2016, em um dos incidentes mais letais, a coalizão atacou o Al-Kubra Hall em Sana’a durante um funeral, matando pelo menos 137 civis e ferindo 695, incluindo 24 meninos. Além dos ataques aéreos, o Aeroporto Internacional de Sana’a foi completamente fechado pela coalizão e, no final de 2017, eles bloquearam de fato os portos iemenitas, dificultando a importação de suprimentos essenciais para o país.
Fonte: BBC, janeiro de 2018
A partir de 2015 e 2016, o terror fundamentalista deu as caras, com ataques suicidas e outros reivindicados pela Al Qaeda e por grupos afiliados ao Estado Islâmico no Iraque e no Levante. Sana’a, Aden e outras cidades foram devastadas, com grande número de baixas civis. Após três anos de combates, as linhas de frente permanecem em grande parte inalteradas, embora as alianças continuem a variar muito em nível local. A visão simplista de um conflito binário entre o governo e a aliança Houthi-Saleh tornou-se cada vez mais confusa à medida que as lealdades mudaram, grupos armados proliferaram e facções se fragmentaram.
Após contínuas tensões entre Houthis e as forças de Saleh, finalmente eles entraram em confronto em Sana’a, em dezembro de 2017 e Saleh foi morto pelos Houthis. Uma calma cautelosa foi retomada após a intervenção da coalizão. As forças do Conselho de Transição do Sul, fortemente apoiadas pelos Emirados Árabes Unidos, continuam a controlar as principais cidades no sul do Iêmen. Nesse momento, os ataques estão momentaneamente suspensos para dar espaço aos esforços de mediação das Nações Unidas.
O Iêmen é palco de uma guerra por procuração entre Irã e Arábia Saudita. Agências da ONU operando no país acabam de preparar um relatório sobre os crimes de guerra cometidos no país entre setembro de 2014 e junho de 2018. A primeira observação é que tem havido ampla violação de direitos humanos e que isso não é exclusividade de nenhum grupo – aterrorizar civis tornou-se parte do jogo. Lembrando que o Iêmen não é signatário do Estatuto de Roma e, portanto, os responsáveis diretos por tais crimes estarem fora do alcance da Corte Criminal Internacional (ICC). Mesmo assim, o relatório frisa a responsabilidade maior da coalizão governamental, porque, em primeiro lugar, existe formalmente um governo iemenita e ele é o responsável número um pela população civil; depois porque Arábia Saudita e Emirados Árabes agem e reagem de modo desproporcional, sem se preocuparem com os efeitos sobre os civis.
São ataques indiscriminados a áreas civis; detenções arbitrárias e proibição de contato com a família; tortura; desaparecimentos; recrutamento de crianças (a partir dos 11 anos, mas já encontraram com 8 anos); estupros e intimidação sexual. Desde 2014 há forte restrição à liberdade de expressão e controle de todas as mídias por partidos e milícias.
Os princípios de distinção, proporcionalidade e precaução para evitar crimes de guerra estão listados nas convenções internacionais e têm sido amplamente ignorados no Iêmen. Resultado é que de março de 2015 a 23 de agosto de 2018, 6.600 civis foram mortos e 10.563, feridos. Desde março de 2017, o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários designou o Iêmen como a maior crise humanitária do mundo.
Em abril de 2018, em um contingente de 29,3 milhões de pessoas, 22,2 milhões (75% da população) dependiam de assistência; 11,3 milhões necessitam de ajuda imediata para sobreviver, mais de 8 milhões não sabem se farão a próxima refeição. A desnutrição aguda está ameaçando a vida de quase 400 mil crianças menores de cinco anos. As carências se estendem a todos os setores – saúde, alimentos, saneamento e água, moradia e proteção. Enquanto isso, os médicos lutam desde 2017 para lidar com um grave surto de cólera, com mais de 1 milhão de suspeitas de casos e 2.248 mortes decorrentes.
A equipe responsável pelo relatório da ONU conclama a comunidade internacional a “abster-se de fornecer armas que possam ser usadas no conflito” – numa referência aos países ocidentais, que vendem armas para a coalizão governamental, e ao Irã – que, a coalizão alega, está contrabandeando armas para os houthi. Enquanto isso, fluxos de refugiados chegam à Europa, onde a xenofobia cresce reagindo à imigração massiva.
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