A história menos contada da Revolução Russa é a das deportações de milhões de pessoas, cujos direitos mais essenciais como cidadãos foram ignorados.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) exacerbou as fragilidades do Império Russo, criando condições para a tomada do poder pelos bolcheviques (comunistas), em novembro de 1917. O governo revolucionário imediatamente retirou-se da guerra e deu início às reformas para implantar o comunismo sobre o que restava do império dos Romanov. Prometendo “paz, pão e terra”, os bolcheviques trouxeram a maioria camponesa para a revolução encabeçada pelo proletariado urbano e industrial de Petrogrado (a antiga São Petersburgo, rebatizada mais tarde como Leningrado) e Moscou (que recuperou o status de capital política do país).
A reforma agrária distribuiu terra para centenas de milhares de famílias cujos antepassados, 60 anos antes, se encontravam em condição servil. Mas havia outros milhões que já possuíam pequenas fazendas e trabalhavam de forma independente ou como meeiros, com condições menos desfavorecidas. Esses pequenos fazendeiros, chamados kulaks, se tornaram alvo de terríveis perseguições à época de Stalin.
Encerrada guerra europeia, os bolcheviques tiveram que lidar com seus opositores em uma guerra civil que se estendeu até 1921. Três anos depois, Lenin saía de cena e Trotsky e Stalin iniciavam a luta pela sucessão. Em 1927, o segundo obteve a vitória enquanto o primeiro era expulso do partido e, dois anos depois, enviado para o exílio.
Naqueles anos, o governo revolucionário criou a Nova Política Econômica (NEP) para recuperar a economia arrasada depois da guerra civil. A liberdade econômica concedida aos pequenos produtores visava a estimular a produção em um mercado de preços livres. A restauração da vida rural dentro dos moldes já conhecidos ajudou a superar a fome, dando ao governo tempo e recursos para promover a industrialização. Entendida à época como elemento necessário para um país e uma sociedade prospera e independente, a URSS tinha a vantagem de um território gigante, possuía minérios e terras cultiváveis e era, portanto, pouco dependente de importações.
Contudo, uma grave fonte de tensões da qual o Estado Soviético nunca se livrou foi seu caráter russófilo: os bolcheviques eram etnicamente russos em sua maioria e continuaram olhando para os não-russos com a mesma superioridade e desconfiança da elite política czarista, que os divididiam em “confiáveis” e “não-confiáveis”. Ao mesmo tempo em que agiam para conservar as antigas colônias unidas à Rússia, reconhecendo as independências e transformando-as em repúblicas, os bolcheviques mantiveram a política de transferência de russos étnicos para as terras da Ásia Central e do Extremo Oriente.
A novidade seria a escala da deportação das populações não-russas para a Sibéria. Apesar da revolução que almejava emancipar o proletariado de todo o mundo, a concepção geopolítica imperial ainda dominava as cabeças do governo central instalado em Moscou. A Rússia czarista conquistou o espaço siberiano no curso de três séculos, mas sua ocupação humana, seu desenvolvimento e industrialização foram obras soviéticas. Não por acaso, o povoamento do espaço siberiano meridional é, principalmente, eslavo.
Fonte: G. Chaliand & J-P. Rageau. Atlas Estatégico y Geopolitico, 1984
Com a chegada de Stalin ao poder misturaram-se problemas econômicos, perseguição política e racismo. A maioria do bolcheviques, moldados pelo pensamento geral da época, acreditavam na existência de raças humanas e na superioridade do homem branco. Assim como, de acordo com o pensamento marxista, o proletariado seria superior ao campesinato, os eslavos russos seriam superiores aos povos muçulmanos da Ásia Central soviética.
Na Alemanha, Hitler era nomeado chanceler (primeiro-ministro) em 1933, dois anos depois do Japão invadir e ocupar a Manchúria. Na época de Stalin havia grande temor de uma aliança unindo Japão e Polônia. O ditador manejava todas essas situações, transformando-as em pretextos para se livrar de inimigos reais ou imaginários. Enquanto isso, os partidos comunistas eram orientados pela Internacional Comunista (Komintern) a liderar a formação de Frentes Populares Anti-Fascistas para combater a opressão em nome da liberdade. E Stalin aparecia para o público externo como um líder excepcional lutando quase sozinho contra o fascismo.
Os bolcheviques lideravam o proletariado urbano de origem majoritariamente russa, mas o Estado que conquistaram era agrícola e multiétnico. Camponeses e não-russos somavam metade da população da URSS e haviam sido historicamente explorados e discriminados pelos czares; obter seu apoio era crucial para os comunistas combaterem as forças contrarrevolucionárias, conservando o poder.
A Constituição de 1922 criou a União da Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), inicialmente sem os Estados Bálticos (Letônia, Lituânia e Estônia) e a Moldávia, anexados à época da Segunda Guerra Mundial por Stalin. Em abril de 1923, Lenin apresentou às repúblicas não-russas o chamado “Grande Compromisso” com base em três diretrizes. A primeira destacava o princípio territorial da nacionalidade: o governo soviético reconheceria cada grupo nacional em uma base territorial, criando repúblicas e regiões autônomas dentro da URSS. A segunda diretriz tratava da criação de partidos comunistas nas repúblicas não-russas que, em tese, trabalhariam em conjunto para construir o Estado comunista. A terceira, a korenizatsiia, era a política de valorização das línguas e culturas locais reconhecendo a diversidade étnica e linguística do território soviético.
A korenizatsiia, uma política de nativização, advogava pela equiparação das línguas e culturas russa e não-russas, deixando para trás os símbolos de poder e dominação representados pelos russófilos. Isso significava difundir a alfabetização em larga escala nas línguas locais, caminho necessário para superar o “primitivismo” cultural e econômico entre os povos da Ásia Central, em boa parte pastores muçulmanos. Era especialmente importante acabar com o tenso relacionamento entre as cidades russificadas e o campo não-russo.
Para Lenin e o Comitê Central, em Moscou, a industrialização era a resposta econômica para o problema das disparidades nacionais, enquanto a nativização forneceria a resposta política. A intenção era neutralizar os nacionalismos não-russos, integrando as diferentes culturas à nova sociedade soviética, que deveria ser industrial e urbana. Pela lógica do partido, populações camponesas não deveriam ser empecilhos ao avanço da revolução comunista. Slogans como “nacional na forma, socialista no conteúdo” eram utilizados para incutir nos não-russos a ideia de que, apesar de etnicamente diferentes, todos eram soviéticos.
Um cartaz dos anos 1920 mostra uma jovem muçulmana da Ásia Central desfraldando uma bandeira vermelha com os dizeres, em sua língua natal, “sou livre agora”. Era a korenizatsiia em ação
A korenizatsiia, contudo, alimentou os problemas que desejava evitar. A rápida transferência de não-russos para as cidades resultou no contrário da integração: os migrantes, alfabetizados nas línguas nativas, não aprendiam mais a língua russa, com a qual antes a maioria se comunicava. Os centros urbanos perderam muito em vivacidade e dinamismo, ao mesmo tempo em que o isolamento em “tribos” culturais politizou as diferenças. Em pouco tempo, os russos que já viviam nessas áreas não-russas passaram a temer uma “desrrussificação forçada”, ligando o alerta das autoridades em Moscou.
Com a alfabetização e urbanização, setores das elites não-russas foram atraídos para os partidos comunistas e para os governos das repúblicas. Mas isso não significava um compartilhamento do poder, pois o Partido Comunista da União Soviética (PCUS) não era uma instituição democrática. O Politburo nunca pretendeu que tais elites representassem os interesses de suas próprias nações e, quando algumas delas tentaram exercer esse papel, a korenizatsiia passou a ser vista como ameaça.
O PCUS, que tinha o monopólio do poder, acreditava ser a manifestação da “necessidade histórica” e, portanto, o único capaz de interpretar corretamente os acontecimentos. Com Stalin, o programa multinacional e multiétnico foi definitivamente abandonado em favor da reafirmação da hegemonia russa sobre o conjunto das repúblicas soviéticas. Repentinamente, o governo inverteu seu discurso, destacando os benefícios que o ensino da língua russa traria para a integração das repúblicas soviéticas.
A grande utopia comunista é acreditar que a razão humana pode encontrar soluções para todos os problemas e agir sem obstáculos. E se eles aparecessem deveriam ser removidos mesmo que à força, o que poderia parecer errado no momento mas terminaria sendo justificado no futuro pela “marcha da história”. Foi a partir dessa perspectiva que, desde o início, os bolcheviques tomaram medidas que configuram crimes contra a humanidade, vitimando aquelas mesmas populações que diziam libertar da opressão.
O Primeiro Congresso Russo de Oficiais de Reassentamento, realizado em março de 1927, em Moscou, afirmou a necessidade de povoar o Extremo Oriente (especialmente a ilha Sakhalina), a Sibéria e a região ártica de Karel-Murmansk Kray. Construir ferrovias, hidrelétricas, minas e fábricas garantiria o domínio sobre essas terras e desenvolveria a URSS. Para tanto, algo entre 5 milhões e 13,5 milhões de pessoas foram reassentadas à força ao longo de uma década.
Seguindo o eixo da ferrovia Transiberiana, a conquista do norte siberiano deu-se pelos grandes rios Ob, Yenisei, Lena e Kolyma, e pela rota marítima que une, pelo Oceano Glacial Ártico, o Mar Branco a Vladivostok. Mais tarde, a partir dos anos 1950, os mares congelados foram singrados por navios nucleares quebra-gelos, que abriam o caminho.
Foi mantida a política de russificação da Ásia Central e da Ucrânia; intensificou-se o povoamento da Sibéria. Os comissários dedicados a planejar o futuro socialista recorreram ao deslocamento forçado de milhões de pessoas para “corrigir” a discrepância entre a abundância de recursos naturais e a escassez de mão de obra em certos locais. No Cáucaso e na Ásia Central predominaram as migrações forçadas das montanhas para a planície, obrigando pastores seminômades à sedentarização. O Cazaquistão foi a república mais transformada em sua composição étnica pelos deslocamentos.
As primeiras operações para reassentamento foram lançadas ainda em 1921, com o fim da guerra civil, e se mantiveram até a morte de Stalin, em 1953. Russos também foram obrigados a se mudar, aos milhões, para terras inóspitas por decisão estatal. A “russificação” mudou profundamente a composição étnica da Ucrânia e de repúblicas da Ásia Central, especialmente o Cazaquistão.
Fonte: Censo da URSS
A URSS foi um país de intensa mobilidade populacional, porém essa mobilidade não se dava por livre escolha de seus cidadãos. Era um tipo de deslocamento caracterizado pelo planejamento; pelo grande número de envolvidos; pela natureza coercitiva. Eram as deportações, um dos componentes essenciais do aparato repressivo stalinista. Deportar era um meio de controle social e começava pelo envio dos líderes dissidentes mais destacados para o Gulag, isto é, os campos de trabalho forçado.
De modo geral, os deportados seguiam para áreas destinadas a grandes projetos de infraestrutura e de descentralização industrial. Ao estigmatizar esses deslocados com o rótulo de “traidores”, “sabotadores” ou “trotskistas”, o governo recorria ao argumento da segurança nacional para ignorar os direitos civis mais básicos dessas pessoas, deixando-as morrer à míngua em campos de trabalhos forçados. O gigantesco sistema policial tinha a finalidade de arregimentar mão de obra compulsória para os projetos estatais.
Fonte: Anne Applebaum, Goulag: Une histoire, 2005
Em 1930, dois comissários do partido, N. M. Yanson e V. N. Tolmachev, notaram que as prisões e campos de concentração para inimigos políticos abrigavam mais de 1,2 milhão de pessoas, com forte aumento da incidência de penas de trabalho forçado (em até 50,3% comparado com 15,3% em 1928). Analisando os resultados, ambos se convenceram da maior eficiência do trabalho forçado em comparação com o trabalho livre. Então, porque não ampliar ainda mais sua utilização, ao mesmo tempo em que se combatia os “inimigos do povo”?
A ideia foi aceita pelo PCUS e difundiu-se a política de transferir os detentos de prisões e reformatórios para campos de trabalho da OGPU, a polícia política. Esses campos deveriam ser autossustentáveis, o que significava a máxima extração de trabalho dos prisioneiros. O controle das operações de deportação foi feito pelas agências de segurança e polícia política – a OGPU e suas sucessoras, NKVD e KGB.
Em 1931, os campos de concentração e os “assentamentos especiais” foram unidos em um único sistema: o Gulag (acrônimo para Administração Geral dos Campos), que chegou a incluir 476 complexos, tendo recebido cerca de 18 milhões de sentenciados. Desse total, entre 1,5 milhão e 3 milhões morreram. Seres aprisionados e embrutecidos pela fome, pelo frio e pela violência pavimentaram com seu sangue as estradas que iriam modernizar a URSS e, supostamente, semear um futuro glorioso aos trabalhadores.
Em 1928 Stalin substituiu a NEP pelos Planos Quinquenais: era hora de avançar na implantação da economia comunista. Considerava-se a planificação e o controle estatal sobre todas as atividades produtivas condição necessária para acelerar a industrialização. A NEP parecia favorecer a expansão de uma classe média rural, os kulaks, transformados em inimigos de classe e de Estado sob a alegação de que agiam sempre em conluio com forças estrangeiras.
O desenvolvimento industrial demandava ampla disponibilidade de mão de obra e isso significava mecanizar a agricultura; a produção de matérias-primas agrícolas e minerais também precisava ser elevada para abastecer as fábricas. A produção de alimentos nunca foi, de fato, prioridade. A resistência dos kulaks em aceitar essa nova organização econômica imposta abruptamente forneceu o pretexto para tratar a todos como traidores e deportá-los para o Gulag. Em 2 de fevereiro de 1930 uma ordem direta da OGPU explicava as medidas necessárias para acabar com os inimigos, incluindo centenas de fuzilamentos sumários. Aqueles que não eram deportados aceitavam a integração às fazendas coletivizadas, onde a fome os aguardava.
Na narrativa do partido, ancorada na luta de classes, acabar com os kulaks era vencer a classe opressora, uma “necessidade histórica”. A perseguição foi alimentada pela campanha estatal: “liquidar os kulaks enquanto classe”.
Na prática, porém, era o Estado que decidia quem seria rotulado como kulak. Em cada localidade um grupo de três pessoas, a “troika”, decidia o destino dos camponeses. A troika era composta por um membro da polícia estatal, um líder local do partido e um procurador do Estado, com autoridade para emitir rápidos e severos veredictos (morte, exílio), sem direito a apelação.
Na Ucrânia a questão se tornou especialmente dramática, mesclando o problema da resistência à coletivização com a própria formação territorial da Rússia e ao lugar dos ucranianos nessa história. Os processos massivos de transferência de população, com expulsão de ucranianos e imigração de russos, especialmente no leste, assegurou o domínio efetivo sobre as terras férteis da Ucrânia. Ao mesmo tempo, tornou o território ucraniano indissociável do russo.
As grandes obras de infraestrutura soviéticas uniam imperativos estratégicos e econômicos. Na Rússia Ocidental, conectaram-se diversos teatros de operações militares por uma rede de canais ligando os cinco mares: Báltico, Azov, Branco, Cáspio e Negro. Nessa moldura, o controle absoluto sobre a Ucrânia tinha valor geopolítico fundamental. Que ninguém pensasse em separatismo: o Mar Negro era inegociável.
Uma família kulak. A revolução não podia correr riscos e deportava indistintamente os kulaks para os campos da Sibéria: crianças, idosos, todos
A coletivização agrícola impôs metas de produção irreais. A exploração dos camponeses era ainda maior que nos tempos dos czares. No outono de 1931, o fracasso da primeira colheita coletivizada tornou-se óbvio, resultando da soma de eventos climáticos desfavoráveis, pestes, força animal limitada devido à matança organizada pela resistência camponesa, produção de tratores insuficiente, eliminação de fazendeiros mais capacitados, semeadura e colheita interrompidas etc.
No inverno de 1932-1933 a fome se agudizou, produzindo os famosos relatos de canibalismo. Quase 500 mil pessoas passaram fome na Ucrânia em abril de 1933. No final daquele ano, oficiais soviéticos calculavam privadamente que 5,5 milhões de pessoas haviam morrido de fome.
Transformados em inimigos e arrancados de suas terras, os ucranianos que não foram fuzilados de imediato ou morreram de fome e exaustão, haviam sido deportados para a Sibéria. Pouco conhecido durante muito tempo e pouco discutido no plano internacional por razões políticas, o holodomor (“morte pela fome” como os ucranianos chamam) resultou em um dos maiores crimes contra a humanidade cometidos no século XX.
Na obra de George Orwell, 1984, “Guerra é paz; liberdade é escravidão e ignorância é força”. Como explicou a filósofa Hannah Arendt, o Estado totalitário ama a instabilidade, pois o poder arbitrário prevalece no caos.
Propaganda contra os inimigos poloneses. O acesso ao Mar Báltico tornava a Polônia um Estado inimigo. Stalin temia uma aliança entre poloneses e japoneses. A ameaça permanente de guerra externa justificava medidas cada vez mais excepcionais
Viacheslav Molotov e Lazar Kaganovich, fiéis a Stalin, impediam que os relatórios desfavoráveis à coletivização e ao primeiro plano quinquenal fossem divulgados. Eles atribuíam a “desestabilizadores ucranianos” os rumores negativos, poupando o líder supremo de ser responsabilizado. Mais do que isso, relacionaram a fome à deslealdade dos comunistas ucranianos: a falta de alimentos seria resultado de sabotagem de ativistas locais a serviço da espionagem polonesa.
A partir de então, a explicação tornou-se cada vez mais mirabolante. A resistência ao socialismo refletiria o seu sucesso, porque seus inimigos entravam em desespero quando contemplavam sua derrota final; o nacionalismo ucraniano seria expressão de um pensamento “elitista” e não produzir os alimentos era uma forma de resistir. Não bastava punir os camponeses: os membros do PC ucraniano que haviam apoiado o desenvolvimento local deveriam ser punidos também. Eles haviam sido lenientes e permitido que os nacionalistas sabotassem as colheitas.
Até o final de 1932 todo o PC ucraniano tinha sido expurgado. Stalin experimentava na Ucrânia o que faria, em seguida, com a cúpula do PCUS.
Parte do talento político de Stalin era a sua habilidade de relacionar ameaças externas com falhas em políticas domésticas, de modo a definir os inimigos internos como agentes de poderes externos. A fome provocada pela coletivização foi desastrosa para a população e ameaçou a liderança de Stalin. O “homem de aço” tratou de arranjar culpados pelos problemas que se acumulavam. Em dezembro de 1934, o assassinato de um de seus aliados mais fieis, Sergei Kirov, forneceu o pretexto para o ditador assumir definitivamente o controle sobre as forças de segurança da NKVD.
Apelando à ameaça externa, Stalin acusou os antigos aliados de Trotsky, Lev Kamenev e Grigory Zinoviev, de estarem por trás de uma trama destinada a derrubar o poder soviético. Ambos “confessaram” planejar um atentado contra Stalin e foram fuzilados; em seguida foi a vez do “direitista” Nikolai Bukharin ser acusado de traição e morto. Eram alguns dos nomes da velha guarda bolchevique que ainda poderiam ameaçar o poder do Grande Líder. A sequência de julgamentos forjados (os célebres “Processos de Moscou”), recheados de confissões obtidas sob tortura, desencadearam o Grande Expurgo.
Stalin e Nikolai Yezhov, o chefe da NKVD
No fim de julho de 1937, Stalin e Nikolai Yezhov, o chefe da NKVD, decidiram liquidar fisicamente os inimigos. Então, o Politburo, órgão de direção do PCUS, aprovou a Ordem 00447 nomeada de “Operação para reprimir ex-kulaks, criminosos e outros elementos anti-soviéticos”. A todo instante, “evidências” de conspirações patrocinadas por agências de inteligência externas eram descobertas. Isso tudo passou a justificar as expulsões e execuções de membros do partido, do exército e da própria NKVD.
A matança caminhou rápido. Em setembro, Yezhov reportou satisfeito a morte de 35 mil pessoas. Ao todo, a “purificação” das Forças Armadas, dos órgãos de Estado e do partido resultaram em cerca de 50 mil execuções.
O censo soviético de 1937 somou 8 milhões de pessoas a menos do que o esperado: a maior parte eram vítimas da fome na Ucrânia, Rússia e Cazaquistão. É razoável falar algo em torno de 3,3 milhões de mortes entre 1932 e 1933 na Ucrânia; o restante eram poloneses, alemães, judeus e russos. Stalin associou os inimigos de classe aos inimigos étnicos, justificando rearranjá-los geograficamente em um grande projeto de engenharia social e etnográfica – especialmente no Cazaquistão e na Ucrânia. E a Segunda Guerra nem tinha começado…
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