“Homens caminham na Lua” – foi essa a manchete do The New York Times, há 50 anos, no 21 de julho de 1969, horas depois do passeio lunar dos astronautas da Apollo 11. Meses antes, em dezembro de 1968, a Apollo 8 tornara-se a primeira nave tripulada a entrar em órbita da Lua. De lá, o astronauta William Anders tomou uma das fotos mais célebres da história: o nascer da Terra. Na parte final da missão da Apollo 8, o mesmo jornal solicitou um texto ao poeta e escritor Archibald MacLeash. O texto inspira reflexões sobre a unidade da humanidade e a universalidade dos direitos humanos.
A concepção dos homens sobre si mesmos e sobre os outros sempre dependeu de sua noção sobre a Terra. Quando a Terra era o Mundo – o mundo inteiro que existia – e as estrelas eram luzes no paraíso de Dante e o chão sob os pés dos homens cobria o Inferno, eles viram a si mesmos como criaturas no centro do universo, a preocupação única e singular de Deus – e, daquele lugar elevado, governaram e mataram e conquistaram como lhes satisfazia.
E quando, séculos depois, a Terra já não era o Mundo, mas um diminuto, úmido planeta girando no sistema solar de uma estrela menor na borda de uma galáxia insignificante nas vastidões imensuráveis do espaço – quando o paraíso de Dante tinha desaparecido e não havia inferno (ao menos, não sob seus pés) – os homens começaram a ver a si mesmos não como atores dirigidos por Deus no centro de um nobre drama, mas como vítimas indefesas de uma farsa sem sentido na qual todos os demais também eram vítimas indefesas e milhões poderiam ser dizimados em guerras mundiais ou em cidades explodidas ou em campos de concentração sem um motivo ou uma razão – exceto, se assim podemos chamá-la, a razão da força.
Agora, nas últimas poucas horas, a noção pode ter mudado novamente. Pela primeira vez em todos os tempos, os homens viram a Terra não como continentes ou oceanos, a partir da curta distância de uma ou duas ou três centenas de milhas, mas das profundezas do espaço: viram-na inteira e redonda e linda e pequena como mesmo Dante – aquela “primeira imaginação da cristandade” – jamais sonhou vê-la, de um modo como os filósofos do vigésimo século do absurdo e do desespero revelaram-se incapazes de adivinhar que ela poderia ser vista. E, vendo-a assim, uma indagação surgiu à mente dos que a olhavam. “É habitada?”, perguntaram uns aos outros e riram – e, então, eles não riram. O que lhes veio à mente uma centena de milhar de milhas ou mais no espaço – “a meio caminho da Lua”, como disseram – o que lhes veio à mente foi a vida naquele pequeno, solitário planeta flutuante, aquela minúscula jangada na enorme e vazia noite. “É habitada?”.
A noção medieval da Terra colocou a humanidade no centro de tudo. A noção nuclear da Terra colocou-a em lugar nenhum – para além, até, do alcance da razão –, perdida na insensatez e na guerra. Esta noção mais recente pode ter outras consequências. Nascida, como foi, nas mentes de heróicos viajantes, também humanos, ela pode refazer nossa imagem da humanidade. Não mais essa tola figura no centro, não mais essa degradada e degradante vítima afastada para as margens da realidade e cegada pelo sangue, o homem pode, finalmente, tornar-se ele mesmo.
Enxergar a Terra como ela é, de fato, pequena e azul e linda naquele eterno silêncio em que flutua, é enxergar a nós mesmos como viajantes reunidos na Terra, irmãos nesse brilhante encantamento no frio eterno – irmãos que agora sabem que são realmente irmãos.
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