Globalmente, a democracia “encontra-se na sua pior forma” nas quase duas décadas desde a criação do Índice da Democracia publicado pela Economist Intelligence Unit (EIU) a partir de 2006. Eis a síntese das estatísticas referentes a 2024, nas palavras da revista The Economist.
O índice classifica os países numa escala de 10 (mais democrático) a zero (mais autoritário). Numa ponta, a Noruega obteve índice de 9,8 e ocupou o primeiro posto pelo 16º ano consecutivo, seguida de perto pela Nova Zelândia (9,6) e pela Suécia (9,4). Na ponta oposta, o Afeganistão, sob a tirania religiosa do Talebã, obteve pontuação de 0,3.
Fonte: Economist Intelligence Unit (EIU)
Não faltaram eleições no ano passado. Cerca de 1,65 bilhão de cédulas entraram nas urnas em mais de 70 países. Contudo, grande parte delas devem ser definidas como farsas: eleições sem liberdades políticas e civis. Na Rússia (índice 2,0), uma nação que conduz uma guerra imperial na Ucrânia mas criminaliza o uso público da palavra “guerra”, o ditador Vladimir Putin obteve um quinto mandato. No Paquistão (índice 2,8), o candidato mais popular, Imran Khan, foi aprisionado pouco antes do pleito.
Há retrocessos generalizados nos índices, em todos os continentes. A Coreia do Sul recuou da condição de democracia plena (8,1 em 2023) a democracia frágil (7,8 em 2024) devido à crise institucional criada pelo ex-presidente Yoon Suk Yeol.
Na Europa, a França experimentou retrocesso similar (8,1 a 8,0) devido à deterioração da confiança no governo gerada por eleições que não produziram maioria parlamentar. Já a Romênia despencou de democracia frágil (6,5) a regime híbrido (6,0) após eleições marcadas por interferência russa e anuladas pelo tribunal constitucional. Entre os países do antigo bloco soviético que hoje pertencem à União Europeia, contam-se apenas duas democracias plenas (República Tcheca e Estônia).
O índice global atingiu 5,17 e sofre quedas quase contínuas desde 2018, interrompidas brevemente por uma pequena recuperação em 2022, na saída da pandemia de Covid-19. Apenas 6,6% da população global vive em democracias plenas, contra 12,5% em 2014. Cerca de 40% da população do mundo vive sob regimes autoritários.
O cenário também não é positivo na América Latina. O México permanece na condição de regime híbrido, como reflexo da violência política promovida pelos cartéis do narcotráfico e das ameaças governamentais contra a independência do Judiciário.
O Brasil segue na faixa das democracias frágeis, mas recuou de 6,7 para 6,5 devido às iniciativas de censura nas redes adotadas pelo STF. Regimes híbridos predominam na América Central e em parte da América do Sul, que só exibe uma democracia plena (Uruguai). Cuba, Venezuela e Nicarágua formam o trio de regimes ditatoriais do subcontinente.
O triunfo de Donald Trump não modificou a pontuação dos EUA (7,8), que aparece desde 2016 como democracia frágil. Contudo, a torrente de ações iniciais de Trump, voltadas para a concentração de poderes no Executivo, sinaliza o risco de forte deterioração suplementar na democracia americana.
O retorno de Trump à Casa Branca impulsiona o extremismo político na Europa. Pela primeira vez na história, os partidos de extrema-direita alcançaram parcela dos votos similar à dos partidos conservadores e social-democratas. A ascensão, iniciada em 2010, acelerou-se depois de 2016. Desde os sombrios anos da década de 1930, tais correntes políticas não ultrapassavam a marca de 20% dos votos.
Fonte: The Economist, 28/2/2025
O magnata Elon Musk, agora na condição de assessor presidencial, e o vice-presidente JD Vance deram declarações de apoio à Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido extremista que mantém relações com neonazistas e opera como porta-voz dos interesses do Kremlin. Na hora da ruptura estratégica entre EUA e Europa, os europeus encontram-se diante de desafios existenciais para a União Europeia e para suas democracias.
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