O QUE O CORONAVÍRUS REVELA SOBRE O ESTADO CHINÊS

 

Elaine Senise Barbosa

10 de fevereiro de 2020

 

O que o coronavírus revela sobre a China e, especialmente, sobre o Estado chinês?

Olhemos para o Brasil. Logo começa o feriado do Carnaval. Você, residente de uma metrópole, programou sua viagem à praia ou à montanha, enquanto centenas de milhares de turistas chegarão para aproveitar a festa na sua cidade. De repente, o governo anuncia que um vírus desconhecido está matando pessoas – e que seu epicentro é justamente a metrópole onde você mora.  Para evitar uma pandemia, as autoridades decidem pelo isolamento da cidade.

Quarentena em massa: quem saiu não pode voltar, quem entrou não pode sair. Como todas as atividades foram suspensas e a ordem é para que todos permaneçam em casa, você não se preocupa em faltar ao trabalho ou escola, mas logo se dá conta de que não tem dinheiro para passar 40 dias instalado em um hotel, nem para comprar comida para a sua família – aliás, comprar onde, se tudo deve permanecer fechado? E o que fazer com seu animal de estimação que ficou em casa com ração apenas para esses dias, pois logo você estaria de volta? Quem os alimentará nesse período? Pior: o que fazer com aquele familiar idoso que ficou sob os cuidados de uma enfermeira, mas agora está completamente só porque quem lhe assistia também não pode sair de casa? 

Você, estudante universitário, aproveitou o feriado para visitar a família em outra cidade e é recebido por um bloqueio de rua, com gente hostil rotulando-o como um “cão imundo”. Você descobre, em seguida, que agentes policias puseram placas na porta da casa da sua família avisando para ninguém se aproximar: não há ninguém doente, mas você veio da área de quarentena e, portanto, é uma ameaça potencial. Então, você começa a receber todo o tipo de mensagem, de gente desconhecida, e se dá conta que suas informações pessoais foram lançadas às redes sociais – e que só quem teria os meios para fazer isso são agentes do Estado… Inevitável lembrar do “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, no qual a selvageria se espalha junto com a doença e todos regridem aos instintos mais básicos e violentos.

“Todos os que retornam de Hubei são bombas-relógio”, alerta a faixa, estendida em rua de uma cidade chinesa, provavelmente Jiujiang, a 230 quilômetros de Wuhan

A descrição fictícia anterior é uma pequena amostra do que está acontecendo na China, especialmente com os habitantes da cidade de Wuhan, na província de Hubei.

A epidemia do novo coronavírus só foi oficialmente reconhecida às vésperas do Ano Novo chinês (25 de janeiro), quando mais de cinco milhões de wuhaneses já tinham deixado a cidade para o feriado prolongado. Apesar do “êxodo”, o governo chinês decidiu colocar toda a cidade em quarentena a partir do dia 23, ordenando que seus habitantes permaneçam confinados em suas residências.

Naturalmente, medida tão drástica quanto inédita fez com que a notícia, que já era alarmante, ganhasse ares de potencial catástrofe global, dada a centralidade que a economia chinesa ocupa no mundo de hoje. O clima catastrofista também se deve ao fato de a imprensa e as mídias sociais serem cada vez mais reféns da estratégia de exagerar as notícias para segurar a audiência: o estresse rende.

E as notícias oscilam entre a desaceleração da economia mundial que uma pandemia pode provocar e a construção de hospitais em Wuhan em espantosos sete dias. Enquanto nossa atenção era dirigida ao “empenho” das autoridades chinesas para controlar o possível surto, com sucessivas comparações com o que ocorreu em 2003, quando Pequim passou quase três meses escondendo a epidemia da SARS, esquecemo-nos das pessoas reais – as infectadas pelo vírus e as que estão em isolamento compulsório, cujas vidas foram postas em quarentena.

Alguns governos aproveitam para esticar um pouco mais a corda do autoritarismo, exercitando a prática de normalizar o anormal. Eles anestesiam  paulatinamente a sociedade para o arbítrio e a violência. É o que acaba de fazer Donald Trump, ao proibir a entrada nos EUA de qualquer estrangeiro que passou recentemente pela China. Veja bem: o veto abrange qualquer chinês, incluindo os que não moram na província de Hubei e nem mesmo na China.

Trump está, com tal ordem, que viola orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), bloqueando fluxos internacionais e, sobretudo, estigmatizando todos os chineses. Não é, exatamente, uma novidade: sob justificativas genéricas de segurança nacional, o governo americano baniu, em 2017, a entrada de cidadãos de sete países e, há pouco, adicionou seis países à lista negra. A epidemia de coronavírus serve a Washington para “normalizar” a xenofobia.

 

Uma história não-oficial e um possível ponto de inflexão

No início de dezembro de 2019, o médico oftalmologista Li Wenliang, do Hospital Central de Wuhan, percebeu que sete pacientes internados sob quarentena apresentavam quadro sintomático semelhante ao da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), a epidemia que no início dos anos 2000 matou mais de 700 pessoas no país. Em 30 de dezembro o doutor Liang enviou mensagem para um grupo privado de colegas médicos, alertando-os para os riscos de uma nova epidemia de SARS. O que ele não imaginava é que sua mensagem começaria a ser repassada a outros grupos e, quando notou que isso estava acontecendo, previu problemas.

Quatro dias depois, o Grande Irmão batia à sua porta: agentes do Escritório de Segurança Pública o acusaram de “divulgar informações falsas” e “causar graves distúrbios à ordem social”. O médico foi obrigado a assinar um documento que dizia: “Nós o alertamos solenemente: se você continuar sendo teimoso, com essa impertinência, e mantiver sua atividade ilegal, será levado à justiça. Está entendido?”. O doutor assinou embaixo: “sim, entendi”. Além dele, mais sete médicos foram procurados sob as mesmas ameaças. À medida que a notícia de epidemia se espalhava, as autoridades insistiam no negacionismo, classificando as notícias como boatos e informando que os responsáveis já haviam sido identificados. As autoridades só não contaram que os “boateiros” eram todos médicos.  

No início de janeiro, Wenliang atendeu uma paciente que estava infectada e, assim, contraiu o coronavírus. A essa altura as autoridades locais declaravam que a doença só atingia quem havia tido contato com animais infectados no mercado de Wuhan; a doença não seria transmitida de uma pessoa a outra. As autoridades sequer alertaram os médicos para que redobrassem os cuidados nos atendimentos.

No final do mês, Wenliang reapareceu nas redes sociais, dessa vez para contar a sua história: ele estava internado desde o dia 12, fora submetido a diversos testes que apresentavam negativo para o coronavírus, até que finalmente, no dia 30, um exame mais acurado deu positivo. Seus pais também tinham sido infectados; por sorte sua mulher, grávida, e seu filho pequeno não apresentaram sintomas. Nesse ínterim, o governo chinês finalmente declarou emergência e isolou a cidade. No dia 31 o médico relatou como fora coagido a assinar o documento, que exibiu em foto. Até a sua morte, no 6 de fevereiro, sua mensagem recebera 945 mil curtidas e mais de 100 mil compartilhamentos.    

O nome de Li Wenliang escrito na neve, à margem de um rio, na manhã seguinte à sua morte. Quem teria tido a coragem de homenageá-lo no mundo real, numa clara contestação ao regime chinês?

Configurou-se, então, um cenário que pareceria impensável há um mês: os chineses estão revoltados e estão deixando isso claro. Os censores governamentais das redes sociais não conseguem bloquear as hashtags de protesto e denúncia que aparecem a todo instante e são rapidamente compartilhadas e comentadas. Os censores apagam, os internautas recomeçam. Mais: em 7 de fevereiro, muita gente tomou coragem de sair do mundo virtual e ir às ruas para fazer apitaços e depositar flores em memoriais improvisados ao médico morto, erigido à condição de mártir do povo em um país onde os direitos civis são ignorados. No fim, a ditadura totalitária viu-se obrigada a oferecer um arremedo de desculpas públicas, citando o médico “subversivo”  – mas, naturalmente, sem admitir nenhum erro.    

A trágica história de Wenliang expõe o tipo de relação existente entre a sociedade chinesa, os mandatários do Partido Comunista e seu mastodôntico aparato burocrático. Nas redes sociais locais (Weibo, WeChat), eternamente vigiadas, “Li Wenliang é um herói” tornou-se um bordão. “Ele não queria se tornar um herói, mas para nós, em 2020, alcançou o limite superior do que podemos imaginar que um herói faria”, dizia um post do Weibo, entre muitos outros em que os chineses dizem revelam vergonha e culpa por não resistirem a um governo autoritário.

 

O poder que serve a si mesmo

Qual é o sentido de agentes públicos tentarem esconder uma doença que pode ser gravíssima?

É evidente que se tivessem agido de outra forma, vidas teriam sido salvas e o Partido não estaria agora vendo sua autoridade contestada de forma nunca vista ao longo dos 70 anos de comando do Partido Comunista. Acontece que a força do regime chinês é também a sua fraqueza. O poder centralizado e burocrático pode, em tempo recorde, canalizar vastos recursos para uma emergência, mas suprime autonomia e flexibilidade às autoridades locais, bloqueando a tomada de decisões urgentes. Além disso, uma complexa e subterrânea disputa de poder entre o topo e a base da administração provoca conflitos intestinos, que se manifestam mais agudamente quando as coisas escapam ao planejamento. Nessas ocasiões, as responsabilidades são atribuídas ao escalão inferior e multiplicam-se as ameaças de represálias.

Não é casual. Xi Jinping, que passou os últimos anos engajado em campanhas internas destinadas a  fortalecer a sua própria liderança na máquina do Partido-Estado, ainda não ofereceu nenhum grande pronunciamento à nação. Nessa segunda, dia 10, ao mesmo tempo em que Jinping finalmente apareceu falando sobre a epidemia, altas autoridades em Wuhan foram demitidas pelo governo…  

Em 2019 o Partido Comunista Chinês contava 90 milhões de inscritos. Um terço do total é formado por funcionários ligados diretamente à administração e ao poder político

Agora se sabe que os integrantes do Partido em Wuhan e Hubei estavam muito ocupados exaltando a si mesmos quando o surto começou.

Vejamos: informações sobre o surto de coronavírus começaram a ganhar força a partir de 31 de dezembro; até 5 de janeiro, novos casos surgiam a cada dia, mas não houve nenhum novo relatório de infecções e vítimas fatais entre os dias 6 e 16, gerando a falsa impressão que tudo estava sob controle. Acontece que, entre 6 e 11 de janeiro, todos os quadros provinciais estavam reunidos em Wuhan para participarem do encontro anual do Congresso Popular.

As mídias sociais registraram que, em 19 de janeiro, véspera do pronunciamento oficial que reconheceu o surto e a gravidade da situação, o governo provincial realizou um gigantesco banquete para mais de 40 mil famílias em comemoração ao Festival da Primavera. Ao que tudo indica, o ritual político não poderia ser perturbado pela inconveniente epidemia.

As reformas centralizadoras comandadas por Xi Jinping aparentemente também aumentam a cautela e o receio dos chefes locais em reportarem problemas às instâncias superiores. Tudo indica que as autoridades provinciais ocultam informações, na esperança de conseguir resolver localmente a situação. Um exemplo já antigo, mas ilustrativo. Em 2001, Pequim ordenou que as províncias buscassem soluções para reduzir os níveis de poluição da água dos rios pelas fábricas. O que aconteceu? Os chefes locais tiveram todos a mesma ideia: deslocar as fábricas para pouco além dos limites das províncias vizinhas. Literalmente, varreram o lixo para a casa do vizinho. Resultado geral: os níveis de poluição das águas aumentaram em todo o país.

No caso do coronavírus, parte da discussão diz respeito aos chamados “mercados úmidos”, onde são comercializados todo tipo de animais domésticos e selvagens, vivos e mortos, facilitando a transmissão de microrganismos transmissores de doenças para as quais as pessoas não têm resistência biológica nenhuma. Desde a epidemia de SARS, esses mercados vêm sendo sistematicamente fechados ou mais fiscalizados, mas tudo isso depende de regulamentação local e empenho das autoridades locais quanto aos controles de higiene. Ao que tudo indica, foi no mercado úmido de Wuhan que tudo começou, como fruto de controles locais mais frouxos.   

 

Sem liberdade de expressão

Na semana passada, 1948 publicou um artigo sobre a importância crucial da liberdade de expressão para as sociedades contemporâneas. Quando não há democracia e suprime-se a liberdade de expressão, as emergências de saúde pública convertem-se em crises trágicas. Por isso, o caso do doutor Li mexeu tanto com os chineses. Mesmo não estando familiarizados com regimes democráticos, eles entenderam perfeitamente que a falta de transparência tornou tudo muito mais dramático.

Li Haipeng, um jornalista veterano, fez uma recomendação para seus seguidores no Weibo: “dar uma última olhada no glorioso pôr-do- sol”. O que ele quis dizer com isso? Que desde que a epidemia de SARS foi revelada, o movimento de censura na China só fez aumentar – e que essa explosão das redes sociais também será controlada. O jornalista está se referindo ao fato de que, na época da SARS, multiplicavam-se os jornais não-estatais, que produziam reportagens investigativas e inquiriam autoridades do Partido. Esses jornais alertaram para o surgimento de uma epidemia que Pequim demorou três meses para reconhecer.

Na sequência, porém, veio a reação. De 2003 para cá, a maior parte dos veículos independentes deixou de existir, por conta de ações de “limpeza” e “regulamentação” do setor, além da prisão de jornalistas, advogados e ativistas pelos direitos civis. Até o editor-chefe do Global Times, Hu Xijin, um defensor das políticas do Partido, reconheceu que as constantes interferências sobre os órgãos de imprensa impediram que a população estivesse ciente do perigo. E foi assim que, em 23 de janeiro, o país acordou com a notícia da quarentena em massa.

O doutor Li Wenliang, vítima do coronavírus aos 34 anos de idade. A máscara de proteção é também uma mordaça

Parece que o governo chinês está disposto a dobrar a aposta repressiva, pois a censura aos relatórios sobre o coronavírus aumentou, sobretudo quando apontam falhas de autoridades do governo. E não é só censura. O regime difunde falsas reportagens sobre a solidariedade com os oriundos da província de Hubei, espalha nas redes sociais filminhos de propaganda sobre a reação do governo à crise, fabrica uma narrativa ilusória sobre a tragédia destinada a reforçar a ideia da eficiência e da infalibilidade do Partido-Estado.

Nesses – tomara que não – “últimos raios de Sol”, reflete-se a onda de indignação que se espalhou pelo país depois da morte do doutor Li: Às duas da madrugada do dia 7, a hashtag #wewantfreedomofspeech# foi postada na Weibo, alcançando mais de duas milhões de visualizações e 5,5 mil postagens relacionadas. Às sete da manhã os censores derrubaram tudo. Mas não foi banal, de modo algum, que esse protesto tenha conseguido permanecer no ar por cinco horas.

Uma repórter da revista Caixin lamentou, no WeChat, que nenhum médico aceitava conversar com ela em Wuhan, mesmo sob anonimato, pois todos temiam represálias. “Se os médicos não estiverem dispostos a correr um pequeno risco de falar a verdade e a mídia não puder denunciar a verdade, no final, todos, incluindo os médicos, serão vítimas”.

 

A questão da quarentena

Gauden Galea, representante da OMS na China, declarou: “Que eu saiba, tentar conter uma cidade de 11 milhões de pessoas é novo para a ciência. Como nunca foi tentado como medida de saúde pública, não podemos, neste estágio, dizer se funcionará ou não.  Observaremos cuidadosamente em que medida é mantida e quanto tempo pode levar. Existem prós e contras. Essa decisão obviamente tem impactos sociais e econômicos consideráveis. Por outro lado, demonstra um compromisso muito forte com a saúde pública e a vontade de tomar ações dramáticas. Envia uma mensagem para Wuhan, para a China e para o resto dos países. Resta ver qual será o seu efeito.”

Quarentena coletiva de portadores do novo coronavírus em hospital de Wuhan

Infelizmente, os chineses estão descobrindo que não basta construir hospitais super planejados (a “eficácia do governo”) se depois falta material básico como máscaras, luvas e kits de teste de vírus, que desapareceram em todo o país em função do pânico gerado pela desinformação. Tem sido graças à mobilização das redes sociais que muita coisa vem sendo obtida por meio de doação, enquanto a burocracia bate cabeça.

“Sempre achei que possuíssemos o sistema estatal mais refinado, que pode agrupar e implantar recursos a qualquer momento”, escreveu um usuário do Weibo, ex-jornalista em Pequim. Mas a realidade foi decepcionante: “Onde está o sistema onipotente?”

Para alguns especialistas em saúde global, a China não deveria focar em medidas drásticas como o fechamento de cidades. Muitos lembram que, durante a epidemia de ebola na África Ocidental, entre 2014 e 2016, essas políticas de “cordão sanitário” tiveram resultados negativos. O isolamento deixou milhares de pessoas famintas, gerando revoltas violentas e, fatalmente, fugitivos que conseguiam “furar” a barreira para chegar aos alimentos e resistiam a procurar os hospitais.

Os moradores de Wuhan e outras cidades da província de Hubei reclamam que as restrições impostas ao tráfego de veículos dificultam o acesso à assistência médica, atrasando os esforços de prevenção. Por outro lado, esses cidadãos têm se aglomerado durante horas nas salas e corredores dos hospitais, o que  é sabidamente contraproducente. Dados recentes demonstram que mais de 40% dos infectados em alguns hospitais de Wuhan contraíram o vírus no próprio hospital.

A aglomeração nos corredores do hospital de Wuhan e a demora no atendimento são jeitos garantidos de contrair doenças

Michael T. Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, declarou: “Você precisa que as pessoas se apresentem de bom grado para o diagnóstico”, pois, “se não entendem o que o governo está fazendo ou perdem de alguma forma a confiança no governo, as pessoas resistirão”.  Para o doutor Osterholm, alguém determinado a produzir as condições ideais para um surto de coronavírus “criaria as salas de emergência que existem em Wuhan agora”.

A Human Rights Watch emitiu relatório na semana passada. Nele, aparece o seguinte trecho:

“O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP), que a China assinou, mas não ratificou, exige que as restrições aos direitos humanos em nome da saúde pública ou de uma emergência pública atendam aos requisitos de legalidade, baseados em evidências, necessidade e proporcionalidade. Restrições como quarentena ou isolamento de pessoas sintomáticas devem, no mínimo, ser previstas e executadas de acordo com a lei. Elas devem ser estritamente necessárias para alcançar um objetivo legítimo, o menos intrusivo e restritivo possível, com base em evidências científicas, nem arbitrárias nem discriminatórias na aplicação, de duração limitada, respeitando a dignidade humana e sujeitas a revisão.” 

Quarentenas não são medidas banais:

“Quando as quarentenas são impostas, os governos têm obrigações absolutas de garantir acesso a alimentos, água e assistência médica. (…) As medidas de restrição de direitos também devem ser implementadas levando em consideração a disposição do público em cumprir os esforços de controle do governo – especialmente em respostas em larga escala, o cumprimento voluntário do isolamento domiciliar e do distanciamento social pode ser mais compatível com os direitos humanos e mais eficaz do que medidas coercitivas de aplicação rigorosa, que podem levar os indivíduos a evitar triagem e cuidados. O apoio público exige que o governo aja com transparência, devido processo e justiça.”

No Weibo, apareceu a seguinte mensagem anônima: “Renunciamos aos nossos direitos em troca de proteção. Mas que tipo de proteção é essa? Onde nossa apatia política duradoura nos levará?”. A postagem foi compartilhada mais de 7 mil vezes e curtida 27 mil vezes antes que os censores a excluíssem.

 

 

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