No 11 de janeiro passado o Centro de Detenção de Guantánamo, também nomeado pela sigla Gitmo, atingiu o vergonhoso número de 20 anos como território fora da lei: um lugar de violação sistemática dos direitos humanos promovida por sucessivos governos dos Estados Unidos. Na prisão de Guantánamo, homens presos que não tinham acusação formada nem julgamentos marcados foram mantidos por mais de uma década, num limbo jurídico de esquecimento do mundo dos vivos. A infame prisão, situada num enclave extraterritorial na ilha de Cuba, está fora do alcance dos tribunais dos EUA, o que justifica prisões arbitrárias e nenhuma supervisão legal.
A antiga base naval, instalada em Cuba por força dos interesses geopolíticos dos EUA desde 1898, foi transformada em campo para prisioneiros após os atentados de 11 de setembro de 2001, no âmbito da então recém-inaugurada “guerra ao terror”, também chamada Doutrina Bush, do presidente George W. Bush.
De lá para cá foram 20 anos e outros três presidentes. Barack Obama tinha como um dos pontos basilares de campanha a denúncia de abusos de militares e de outros agentes de segurança em centros de detenção como Abu Ghraib, no Afeganistão, e Guantánamo. Mas o presidente democrata foi vencido no Congresso, controlado pela maioria do Partido Republicano. Os congressistas, incluindo alguns democratas, argumentaram que abrigar os detidos em prisões em solo americano colocaria em risco a segurança nacional.
Em 2013, mais da metade dos 166 detidos do campo entraram em greve de fome para chamar a atenção para sua situação. Quando se iniciou o governo de Donald Trump, a situação retrocedeu. Para contrariar as políticas de Obama, o republicano manteve ativa a prisão em Guantánamo, para júbilo dos islamofóbicos.
O governo do atual presidente, Joe Biden, pretende investir US$ 4 milhões nas instalações da prisão, segundo informou o The New York Times, porque existem prisioneiros que estão condenados a nunca mais saírem de lá. Nas últimas duas décadas, 780 homens passaram pela instalação, que hoje abriga 39 encarcerados, de acordo com informações do órgão do governo responsável pelos processos.
“Estas detenções estão inevitavelmente ligadas a várias camadas de conduta ilegal do governo ao longo dos anos – transferências secretas, interrogatórios incomunicáveis, alimentação forçada de grevistas, tortura, desaparecimento forçado e uma completa ausência do devido processo legal”, explicou a Anistia Internacional.
Fontes: The New York Times; Human Rights Watch
Os primeiros presos chegaram no início de 2002, suspeitos de pertencerem à Al-Qaeda, a organização terrorista responsável pelos atentados de 11 de setembro, e também ao Talebã, o grupo fundamentalista que governava o Afeganistão e deu abrigo a Osama Bin Laden.
Em pouco tempo, centenas de homens, em sua maioria pegos na rede da delação paga, sem saber do que eram acusados, encheram as celas de Guantánamo. Eles esperaram meses e anos por proteções legais básicas, negadas ou proteladas inicialmente pelo governo Bush, com ajuda do Departamento de Justiça. A justificativa dizia que tais prisioneiros não estavam sob jurisdição dos tribunais dos Estados Unidos porque estavam geograficamente fora do território nacional americano. O absurdo destinava-se a eximir o governo de observar a Convenção de Genebra e as regras sobre tratamento de prisioneiros.
Campo Raio-X, o primeiro a receber detidos da “guerra ao terror”, ensinou que Estados sempre precisam de limites. A imagem acima é uma síntese possível da infâmia
A invenção da figura de “combatente inimigo ilegal” e sua vinculação aos tribunais militares retardou ainda mais as ações na Suprema Corte. Encobertos, os agentes das Forças Armadas e, sobretudo, das forças especiais de segurança praticaram abusos físicos e psicológicos contra os detidos, de maneira sistemática. Nos primeiros anos após o 11 de setembro, ou seja, durante o governo de George W. Bush, o sistema judicial dos Estados Unidos, assim como a maioria da população, estava paralisado pelo terror e tomado de pânico islamofóbico.
O Centro de Detenção de Guantánamo foi denunciado por organizações humanitárias, como a Cruz Vermelha, e de direitos humanos, como a Anistia Internacional, por violações à Convenção de Genebra sobre direitos dos prisioneiros. O governo Bush insistia que o uso de tortura havia produzido informações valiosas. A prática foi mantida nos demais governos, mesmo sob negativas. Na clássica situação descrita na ciência política, a sociedade trocou o princípio da liberdade por uma (falsa) sensação de segurança.
Apenas em 2008 os detidos adquiriram o direito de contestar suas prisões em tribunais federais. Quando os primeiros começaram a ser transferidos, não necessariamente libertos, um novo obstáculo se impôs: ou nenhum país aceitava recebê-los como prisioneiros ou imigrantes, ou os países de onde vinham eram considerados pouco seguros para garantir o controle desses retornados. Os que, aos poucos, conseguiram vistos e forma admitidos em em outros países têm que lutar contra o estigma de “prisioneiros de Guantánamo”.
Alberto Gonzáles, ex-procurador-geral geral do governo Bush e seu maior cúmplice na violação dos direitos humanos
(Fonte: Al Jazeera)
Δ
Quem Somos
Declaração Universal
Temas
Contato
Envie um e-mail para contato@declaracao1948.com.br ou através do formulário de contato.
1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos © Todos os direitos reservados 2018
Desenvolvido por Jumps